Saúde
Em meio à febre de medicamentos para emagrecer, farmácias divulgam informes estimulando alternativas de marcas
O mau uso desses remédios pode levar a efeitos adversos, como uma pancreatite
Foto: Reprodução/CFF
Década após década, dia após dia, a obsessão pelo corpo magro continua. Junto com ele e com a necessidade de instantaneidade e rapidez, fórmulas e medicamentos tidos como milagrosos viram uma febre. É o caso do Monjauro e Ozempic, produtos indicados para tratamento de diabéticos. Esse último já está em falta nas farmácias dada a alta procura, mas o próprio mercado já induz a outras alternativas. Em farmácias de Salvador, por exemplo, consumidores já encontram informes sugerindo outros medicamentos similares para o emagrecimento “rápido”.
Em uma grande rede farmacêutica em Salvador, a reportagem encontrou um informe no balcão comunicando aos clientes problemas no abastecimento do Ozempic e listando outras alternativas para substituí-lo. Apesar de pontuar que é importante a orientação médica, na prática, o informe acaba funcionando como uma indução, já que os produtos não exigem receita médica.
Essa, inclusive, é uma das principais críticas de especialistas que combatem o acesso facilitado a esse tipo de medicamento. Em um levantamento feito pelo Jornal Metropole através do Google Trends, a palavra “ozempic” teve recorde de pesquisas entre 24 a 30 de março deste ano, junto a ela, “ozempic vende sem receita?” foi um dos assuntos associados mais pesquisados. Por enquanto, existem alguns projetos de lei no Congresso Nacional que buscam enquadrar esses medicamentos em categorias mais restritas, com acesso mais controlado, como acontece com os antibióticos, que requerem retenção da receita no ponto de venda.
Riscos à saúde
O mau uso desses remédios, que foram criados para atender um grupo vulnerável, pode levar a efeitos adversos além da perda de peso. A obstipação intestinal, náuseas, vômitos, piora de quadros de refluxo, pancreatite e perda de massa muscular são alguns dos possíveis colaterais apontados pelo hepatologista Raymundo Paraná. Ele é um crítico ferrenho dessa obsessão pela beleza, que expõe o paciente a tratamentos que muitas vezes pode colocá-lo em risco.
“Não existem duas medicinas, não existe ética relativa, a ética é uma só. O que está se fazendo é um modismo irresponsável e as pessoas estão adoecendo. Os pacientes estão se amontoando e um dia isso vai ser claramente passado para a população, eu só espero que não demore muito porque as vítimas se acumulam”, afirmou o hepatologista sobre essa busca pelo corpo “perfeito”.
Até mesmo o mercado ilegal e os grupos de vendas já incorporaram esse tipo de medicamento. Na ilegalidade, ele pode ser encontrado disfarçado e até em códigos como um produto do submundo. A droga em si já oferece riscos quando mal utilizada. Para aqueles que querem emagrecer a todo custo e compram o medicamento sem saber a procedência, pode ser ainda pior. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária emitiu um alerta sobre a falsificação do remédio em outubro deste ano após a ação de um grupo de criminosos e a internação de uma mulher com hipoglicemia e risco de morte. O fato é que cuidar do corpo está além de querer se integrar à moda do momento. Seguir tendências, muitas vezes, pode ser fatal.
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