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Redes sociais viram vitrines para médicos e estudantes transgredirem ética profissional expondo pacientes
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Redes sociais viram vitrines para médicos e estudantes transgredirem ética profissional expondo pacientes
Uma rápida rodada nas redes sociais prova o vale-tudo: desde a rotina com imagens de pacientes acomodados em macas até exames e detalhes clínicos e reservados

Foto: Reprodução/Freepik
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 25 de abril de 2025
Para alguns, é só uma postagem, um vídeo, foto se exibindo nas redes ou querendo vender, a qualquer custo, produtos e medicamentos comprometidos apenas com o rendimento de quem posta. Mas, para pacientes e aqueles preocupados com a ética na Medicina, o que se vê, na verdade, é uma onda de médicos e estudantes da área usando as redes sociais apenas como vitrine, que acaba, no final das contas, expondo apenas o paciente.
Paciente no foco da vitrine
Uma rápida rodada nas redes sociais prova o vale-tudo: desde a rotina com imagens de pacientes acomodados em macas até exames e detalhes clínicos e reservados. Tudo isso em meio a fotos compondo stories e feeds que até pregam um suposto profissionalismo. Em Goiás, por exemplo, uma estudante filmou e publicou um exame ginecológico de uma paciente.
Mas o caso que chamou mesmo atenção foi o de duas estudantes de Medicina que postaram um vídeo sobre uma paciente, afirmando que ela “acreditava ter sete vidas” depois de realizar três transplantes de coração. Após a repercussão, as duas afirmaram que "não tiveram a intenção de ofender e, sim, de informar o caso", ainda assim, são alvo de um inquérito e podem responder criminalmente.
Até onde eles podem
Advogada e professora da Faculdade de Medicina da Ufba (Universidade Federal da Bahia), Camila Vasconcelos acredita que esse vale-tudo nas redes é um processo mais abrangente da sociedade, mas na Medicina ganha outros contornos por conta da credibilidade em torno da fala dos médicos. Mas não é só isso, a confiança entre paciente e médico também é um princípio central na ética da Medicina e o estudantes precisam ter clareza de que não é permitido expor a vida de pacientes.
“Na verdade, nem mesmo exibir pacientes é possível, nem mesmo falar sobre a vida de pacientes, a não ser que seja no ambiente pedagógico”, esclarece a professora. O CFM (Conselho Federal de Medicina) atualizou em 2023 as regras de publicidade médica, e passou a permitir a publicação dos chamados "antes e depois", só que ainda assim apenas para fins educativos e com autorização prévia do paciente.
“Médicos devem ter noção de que aquele [redes] não é um ambiente que deve descortinar a coisa mais importante que existe na medicina que é a confiança na relação”, concluiu a professora.
Conselho no rastro
O vale-tudo já tem chamado a atenção do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb). Segundo o presidente Otávio Marambaia, a entidade já recebeu denúncias de médicos que publicaram conteúdos inadequados ou antiéticos nas redes sociais, e vem seguindo um protocolo claro de combate a essa prática.
São realizadas orientações para os médicos e, em casos considerados mais graves, há a abertura de sindicâncias e até processos ético-profissionais. “O médico pode usar as redes sociais, mas deve seguir o regramento vigente, respeitando sempre a ética da profissão”, disse o presidente do Cremeb.
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