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Muscle Fraude: Marcado por controvérsias e brigas, mercado da creatina vira febre e esconde riscos
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Muscle Fraude: Marcado por controvérsias e brigas, mercado da creatina vira febre e esconde riscos
Uma análise realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) apontou que, de 88 produtos avaliados, dez sequer tinham creatina
Foto: Reprodução/Canva
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 27 de dezembro de 2024
Não tem muito segredo. É só prometer músculos e queima de gordura com mais facilidade que qualquer produto vira logo o queridinho do momento, independentemente dos riscos. A creatina vem roubando esse posto há alguns anos, no ano passado, por exemplo, ela foi o suplemento esportivo mais pesquisado, atingindo também um público que não é só de atleta e nem tem acompanhamento médico.
Mas, em outubro, a repercussão de um estudo e seus bastidores se somou aos alertas que já eram feitos por médicos e acenderam ainda mais o sinal vermelho sobre esses potes. Uma análise realizada pela Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais (Abenutri) avaliou a composição de 88 produtos de diferentes marcas para identificar se a quantidade de creatina indicada no rótulo corresponde à real quantidade disponibilizada no produto. Dentre as avaliadas, dez sequer tinham creatina, poderia haver qualquer substância no frasco, exceto o informado. O famoso gato por lebre. Outras 15 marcas foram no mesmo balaio das reprovadas porque não tinham o mínimo exigido de 80% de pureza.
E os resultados podem ter sido ainda piores, porque algumas das empresas testadas se valeram de medidas judiciais para que os resultados das suas avaliações não viessem a público. Uma dessas marcas alega perseguição por parte da liderança da Abenutri e diz que há “falta de seriedade” nos rankings. O presidente da associação, Marcelo Bella, aponta que a o atrito com essa fabricante surgiu quando sibutramina, uma substância medicamentosa controlada, foi encontrada nos produtos da marca. Essa mesma substância, que aumenta consideravelmente o risco de derrame e infarto, também já foi encontrada pelo hepatologista Raymundo Paraná em um suplemento utilizado por um de seus pacientes.
“Quando temos algum paciente que adoeceu por suplemento, faço um trabalho semelhante a esse [da Abenutri]. Levo o produto para a Faculdade da Farmácia para saber se o que tem dentro é exatamente o que tem no rótulo e as surpresas são imensas. Já vi de tudo, muito medicamento anabolizante dentro de suplemento que não está no rótulo”, relata. Para o hepatologista, a decisão de suspender os resultados da avaliação dessas marcas não pode ser vista de outra forma senão falta de transparência.
Teia de aranha e larvas
Se sibutramina é um nome estranho e técnico demais, larvas e teias de aranha são bem conhecidas e também podem ter sido encontradas em potes de creatina. Em um grupo de lideranças da marca Soldiers Nutrition, há relatos de consumidores que encontraram um material semelhante a teias e larvas misturado ao produto. Uma operação da Polícia Civil chegou a interditar uma fábrica terceirizada utilizada pela empresa, que é uma das mais conhecidas no Brasil, apontando a ausência de licença e de condições sanitárias satisfatórias.
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