Disputa por responsabilidade de fiação nas ruas de Salvador abre brecha para furtos e mercado ilegal

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de outubro de 2024

Quando não é amontoado em postes, o lugar de fios e cabos em Salvador é pendurado sobre as vias ou simplesmente largado nas calçadas. E, como se não fosse suficiente a poluição estética e risco aos pedestres e motoristas, essas cenas, registradas cotidianamente por soteropolitanos, tem estimulado um comércio ilegal desse material, que se alastra pelos bairros da capital.

Quem nunca tiver visto furtos de cabos ou fios em Salvador, que atire a primeira pedra. Nesta semana, por exemplo, um homem foi flagrado, à luz do dia, escalando um semáforo para furtar fios do equipamento. Pouco tempo depois, a sinaleira parou de funcionar. A cena aconteceu na Avenida Jorge Amado, uma das principais do bairro do Imbuí, que, não por coincidência, já havia virado neste mês um cenário de abandono de cabos. O problema começou durante a troca de postes pela Neoenergia Coelba. Com a substituição, a fiação antiga foi retirada, mas permaneceu na via. A empresa alega que a responsabilidade do descarte era das operadoras de telefonia e internet. Mas os interessados no cobre não querem nem saber quem é o pai da criança.

Não demorou muito para grupos enxergarem uma oportunidade na disputa pela paternidade. Moradores relatam ouvir à noite até brigas de pessoas em situação de rua pelas partes mais valiosas dos cabos. À luz do dia, não muda muito. O Jornal Metropole chegou a flagrar pessoas arrastando metros e metros de fios pela avenida.

A Polícia Civil (PC) até tem a Operação Metallis, justamente para coibir esse tipo de furto, roubo e venda. Em uma das ações no ano passado, em julho, mais de 1,5 tonelada de fios de cobre sem procedência foram encontrados e apreendidos em um galpão. Apesar disso, ao ser procurada pela reportagem, a corporação informou que não há dados sobre esse recorte. No final das contas, quem sai ganhando é o comércio ilegal e aqueles que conseguem se isentar de suas responsabilidades.