Efeito de Lula Lá: Pesquisa IPM/Metropole aponta que apoio do presidente e coringas do PT baiano eleva chances de vitória do partido em Feira de Santana

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 18 de julho de 2024

A disputa é de Zé para Zé, mas quem pode decidir a parada é Luiz, com a ajudazinha de dois parceiraços de primeira hora. O palco da refrega é Feira de Santana, e para apimentar a já bem apimentada briga eleitoral pelos quase 430 mil votos da Princesa do Sertão, o Grupo Metropole encomendou ao Instituto de Pesquisas Municipais (IPM) um levantamento para medir a tendência dos feireses a cerca de um mês antes do início da campanha. Os números, divulgados na última quarta-feira (17), comprovam o alto grau de imprevisibilidade na corrida pela prefeitura da maior cidade do interior baiano, mas revelam também o peso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá na sucessão, em um cenário de guerra acirrada.

De acordo com a pesquisa, o apoio do presidente, somado ao do governador Jerônimo Rodrigues e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, pode favorecer o deputado federal Zé Neto (PT) no duelo contra o ex-prefeito Zé Ronaldo (União Brasil). Embora a pesquisa não inclua Jaques Wagner na lista de apoiadores, o senador é considerado no PT como um dos mais fortes cabos eleitorais do partido no interior e já adiantou aos aliados que participará ativamente da campanha de Zé Neto. No levantamento feito com 604 eleitores entre 4 e 9 de julho, 54,6% disseram votar no petista caso ele fosse o candidato apoiado por Lula, Jerônimo e Rui, em confronto direto com Zé Ronaldo, que aparece com 35,5% quando associado ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Trocando em miúdos, puxado pela trinca de áses do partido, Zé do PT coloca quase 20 pontos percentuais de frente sobre Zé do União Brasil, quando apontado como queridinho de Neto e Bolsonaro. Tal vantagem se mantém praticamente a mesma em todos os segmentos esquadrinhados na pesquisa com oscilações, dentro da margem de erro de 3,98% para mais ou para menos. Mas há fatias onde a variação positiva ultrapassa a linha.

Pico de votos

No recorte por idade, a ligação com Lula faz com que as intenções de voto em Zé Neto alcancem percentuais acima da média na faixa de 16 e 17 anos (75%) e dos 18 aos 24 (59,2%). Em relação à renda, o deputado do PT alcança 60,1% entre os entrevistados que ganham até um salário-mínimo. Em contrapartida, o ex-prefeito soma 50% junto ao eleitorado com cinco salários-mínimos ou mais, no cenário em que é medido o impacto dos apoiadores.

A associação entre Zé Ronaldo e o ex-presidente não ocorreu à toa. Em 2018, quando concorreu ao governo da Bahia no lugar de ACM Neto, ele anunciou apoio ao então presidenciável do PSL. Em sucessivas entrevistas, o popular ex-prefeito, que já governou a cidade por quatro vezes, repetiu em diversas ocasiões que se tratava de uma decisão de cunho pessoal, e não do bloco ao qual é alinhado. Fora isso, Zé do União tem em sua base o PL, sigla que abriga o bolsonarismo.

Para Zé do PT, o impacto do apoio de Lula se torna uma variável de peso na batalha para tirar a cidade do colo dos opositores. Sobretudo, porque a pesquisa IPM/Metropole indica empate técnico entre ele e o rival no cenário estimulado. Quando são apresentados os nomes dos candidatos, Zé Ronaldo aparece ligeiramente à frente com 38,1%, contra 36,9% de Zé Neto. Considerando a margem de erro, é impossível prever quem de fato está na dianteira.

Tido como a terceira via na cidade, o deputado estadual Pablo Roberto (PSDB) aparece com 11,7%, seguido pelo empresário Carlos Medeiros (Novo), ccom 1,2%. No total, 6% disseram não optar por nenhum dos quatro candidatos e 5,6% não quiseram ou não souberam responder. Brancos e nulos ficaram abaixo de um ponto percentual. Mesmo com o tucano fora do páreo, fator já considerado certo, o acirramento entre os dois principais duelistas continua.

Pau a pau na segunda etapa

Em um provável segundo turno entre o deputado e o ex-prefeito, detectou o IPM, Zé Ronaldo soma 45,52%, ante 44,9% de Zé Neto. A diferença de apenas 0,3 ponto percentual elimina quaisquer prognósticos sobre favoritismo. No mesmo diapasão, desmonta a tese de que, sem Pablo Roberto na pista, os votos potenciais do parlamentar tucano migrariam por osmose para o representante do União Brasil no páreo. Os dados da sondagem revelam uma divisão praticamente igual do eleitorado do tucano para os dois adversários.

Em compasso simultâneo, Zé Ronaldo apresenta o maior índice de rejeição - 37,1% dos entrevistados disseram não votar de jeito nenhum no pré-candidato do União Brasil. O petista, que vai para a sexta tentativa de comandar o município, é rejeitado por 32,3% dos eleitores, 4,8 pontos percentuais a menos. Portanto, fora da margem de erro. A única vantagem real do ex-prefeito de Feira aparece no cenário espontâneo, quando não são apresentados os nomes dos candidatos.

Conforme a pesquisa, 24,7% citaram Zé Ronaldo como candidato preferencial, contra 19,2% de Zé Neto - diferença de cinco pontos percentuais e meio. Juntando todos cenários traçados pelo IPM, o apoio de Lula e dos demais centroavantes do seu time tem poder para sepultar o passado de derrotas no duradouro sonho de ganhar o coração da Princesa. Em 2020, quase chegou lá. Passou para o segundo turno com aproximadamente nove mil votos a mais que o atual prefeito, Colbert Martins (MDB). No confronto final, Colbert virou o jogo, e Zé do PT terminou a partida com quase 27 mil votos a menos.

Conforme exigido pela legislação eleitoral, seguem as informações de praxe para divulgação de pesquisas pelos veículos de imprensa: o levantamento foi realizado no método survey, com coleta de dados através de abordagem domiciliar face a face e por meio eletrônico, via tablet ou smartphone, sob o seguinte número de registro no TRE: BA-06315/2024.