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Em meio a tradições, cortejo do 2 de Julho virou cenário de disputas e vitrine para candidatos

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Em meio a tradições, cortejo do 2 de Julho virou cenário de disputas e vitrine para candidatos

Com a corrida pela prefeitura de Salvador no horizonte, Festa da Independência será o grande teste de popularidade antes que a campanha de rua seja oficialmente iniciada

Em meio a tradições, cortejo do 2 de Julho virou cenário de disputas e vitrine para candidatos

Foto: Metropress/Tácio Moreira

Por: Jairo Costa Jr. no dia 27 de junho de 2024 às 00:00

Atualizado: no dia 27 de junho de 2024 às 09:38

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 27 de junho de 2024

Há o 2 de Julho do heróis da Independência do Brasil na Bahia, do Caboclo e da Cabocla, de Maria Quitéria, João das Botas, Joana Angélica, Lord Cochrane, Maria Felipa e General Labatut, que o baianês, com sua peculiar malícia, recomenda traduzir para Labatives com forma de escapar da óbvia rima. Nele, o espírito cívico e o clima festivo dominam a celebração bicentenária pelo fim definitivo da soberania portuguesa sobre a nação. Mas há também o 2 de Julho político, onde cada líder disputa protagonismo no desfile entre o Largo da Lapinha e o Terreiro de Jesus, em meio a vaias, aplausos, confusão, gritaria e empurra-empurra. Em ano eleitoral, então, o barril é dobrado. Quem não sabe brincar não desce para esse playground histórico.

Com a corrida pela prefeitura de Salvador no horizonte, a Festa da Independência será o grande teste de popularidade antes que a campanha de rua seja oficialmente iniciada. De um lado, estará o bloco do PT e do pré-candidato da base governista ao Palácio Thomé de Souza, o vice-governador Geraldo Jr. (MDB).  Do outro, a ala do União Brasil, encabeçada pelo prefeito Bruno Reis. Os cidadãos familiarizados com as particularidades do desfile sabem como começa o 2 de julho político, mas nunca como termina. A cordialidade, seja ela autêntica ou fajuta, fica geralmente restrita à cerimônia de hasteamento das bandeiras do Brasil, da Bahia e de Salvador. A partir daí, tudo pode acontecer.

Em 2009, o então prefeito João Henrique, eleito um ano antes para o segundo mandato, que o diga. Cercado, xingado e hostilizado pelos servidores municipais em greve, enfurecidos por sua recusa em negociar o reajuste salarial da categoria, foi alvo de uma chuva de papéis e ovos. Até guarda-chuva atiraram sobre ele, que só escapou sem maiores danos por causa da numerosa equipe de segurança escalada para protegê-lo, à base da força bruta. Em 1994, o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) experimentou a agressividade de uma tropa de 200 homens, a maioria policiais militares infiltrados a mando do ex-governador ACM apenas para tumultuar a passagem do presidenciável petista, rival de FHC na disputa pelo Palácio do Planalto daquele ano.

Como era esperado, ACM fez de conta que não teve nada a ver com o fuzuê. "O que houve é que fui aplaudido o tempo todo. Só ando sozinho e sou aplaudido. É óbvio que quando aceitei participar do desfile é porque sabia que seria aplaudido", disse, em declaração concedida ao jornal Folha de S.Paulo e publicada dois dias após a festa, embora ninguém em sã consciência tenha engolido o lero-lero do político. Até porque ACM era conhecido pelas artimanhas criadas para que ele assumisse o posto de estrela principal do evento e deixasse os adversários como meros coadjuvantes ou figurantes.

Aquele não foi o único confronto do 2 de Julho político de 1994. Muito menos o mais conhecido de todos. Esse posto pertence ao duelo entre ACM e a então prefeita Lídice da Mata, que dois anos antes havia imposto uma dura derrota ao carlismo. Na ocasião, ACM queria passar com sua tropa à frente de Lídice. Na condição de chefe do Executivo municipal, ela não abria mão de liderar o cortejo. A prefeita aguentou o quanto pôde, sob chuvas de ameaças e impropérios impublicáveis por conta do alto nível de deselegância. Contudo, eternizou a resistência pessoal em uma frase curta: "Desencarna, ACM!".