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Em pé de guerra: período pré-eleitoral no interior é marcado por disputa entre familiares, aliados e apadrinhados políticos

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Em pé de guerra: período pré-eleitoral no interior é marcado por disputa entre familiares, aliados e apadrinhados políticos

Interior baiano tem duras disputas para manter ou assumir o controle da prefeitura pelos próximos quatro anos

Em pé de guerra: período pré-eleitoral no interior é marcado por disputa entre familiares, aliados e apadrinhados políticos

Foto: Reprodução/Jornal Metropole

Por: Jairo Costa Jr. no dia 20 de junho de 2024 às 09:17

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 20 de junho de 2024

Tem cidade em que irmãos viraram adversários. Há outras em que a criatura decidiu enfrentar o criador. E existem ainda municípios nos quais aliados em nível estadual estão em rotas opostas sem que nenhum deles se mostre disposto a evitar a colisão frontal. Esses são os cenários do período pré-eleitoral no interior baiano, onde partidos e clãs políticos travam disputas duras para manter ou assumir o controle da prefeitura durante os próximos quatro anos.

No interior em pé de guerra, uma das batalhas mais acirradas se dá entre PT e PSD. Os dois partidos são hoje os mais numerosos na base aliada ao governador Jerônimo Rodrigues. No entanto, decidiram se digladiar em um punhado de cidades. Caso de Bom Jesus da Lapa. No município conhecido pela fama como centro do turismo religioso na Bahia, além do embate entre parceiros, há o confronto do padrinho com o afilhado político. Explique-se:

O atual prefeito, Fábio Nunes, foi escolhido pelo deputado estadual Eures Ribeiro (PSD) para sucedê-lo em 2020, após oito anos à frente do município. Mas foi, como se diz no anedotário político, picado pela mosca azul, ou seja, o poder. Rompeu com Eures Ribeiro, trocou o PSD pelo PT e vai partir para o tudo ou não contra o padrinho em 6 de outubro. Para completar o fuzuê, Fábio Nunes garante aos aliados já ter recebido promessas de apoio direto de Jerônimo, mesmo que o gesto do governador, se confirmado, vá enfurecer um parlamentar da própria base.

Em Itapetinga, no sudoeste, o panorama é parecido. Presidente da Câmara de Vereadores da cidade de 66 mil habitantes, João de Deus, vai confrontar outra pré-candidata da base, Cida Moura (PSD), aliada do senador Otto Alencar, presidente estadual do partido, e do deputado federal Antonio Brito, também cardeal da sigla. A princípio, o racha foi atribuído a uma costura do deputado estadual Rosemberg Pinto (PT), líder da bancada governista na Assembleia Legislativa. Segundo mais votado na cidade em 2022, Rosemberg tentou convencer Cida Moura a trocar o PSD pelo PT.

Segundo aliados do petista, o movimento tem como horizonte os planos do deputado de concorrer à Câmara em 2026. O que passaria necessariamente por arrombar a cerca de dois federais do PSD bem votados na cidade: Antonio Brito e Otto Filho, justamente o filho do presidente da legenda na Bahia. Como não conseguiu atrair, seduziu João de Deus, que migrou do MDB para o PT. A pimenta fica por conta da pré-candidatura de Eduardo Hage, tio do prefeito Rodrigo Hage e filiado ao MDB, sigla alinhada ao governador.

Bala trocada

Já em Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador, a rasteira foi dada em sentido contrário. Então pré-candidata do PT no município, Rose Requião desembarcou no PSD em movimento que criou reviravolta durante a última janela partidária, aberta de março ao início de abril. A troca se deu após a cúpula petista substituir Rose pela ex-prefeita Jussara Márcia, que havia se distanciado da política durante a pandemia. A lambança só ganhou mais corpo com a determinação do deputado estadual Raimundinho da JR de entrar no páreo. Embora eleito pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Raimundinho virou membro da tropa governista no Legislativo desde que tomou posse, em fevereiro de 2023.

Em Ilhéus, o vale-tudo entre os dois maiores partidos da base se repete. O prefeito Mário Alexandre (PSD) colocou seu ex-secretário de Governo, o advogado Bento Lima, para representá-lo na corrida pelo segundo maior colégio eleitoral do sul da Bahia. Estava certo de que o abraço do senador Otto Alencar seria suficiente para colocar o governador no palanque. Mas o Palácio de Ondina deu de ombros para a aliança com o PSD e lançou a pré-candidatura da ex-secretária estadual de Educação Adélia Pinheiro. Mais: avisou que se esforçará para vencer a batalha.

Há ainda dificuldades de consenso dos dois nomes da oposição: o ex-prefeito Jabes Ribeiro (PP) e o empresário Valderico Júnior, filho do ex-prefeito Valderico Sena e expoente do União Brasil em Ilhéus. Ainda que ambos tenham firmado um pacto de unidade, falta o principal para selar o acordo. Em síntese, saber quem irá ceder a cabeça de chapa para o outro. Até o fechamento desta edição, o tão ventilado acerto permanecia no campo das ideias.

No sudoeste do estado, Jequié virou palco de um atrito familiar decorrente da sucessão municipal. Oitavo maior colégio eleitoral do interior, a cidade é governada pelo ex-deputado estadual e ex-prefeito de Lafaiete Coutinho Zé Cocá (PP). Entre os principais aliados do pepista, está o deputado estadual Hassan Iossef (PP). O problema é que seu irmão, Alexandre Iossef, o Alexandre da Saúde (PSD), ex-gerente da Santa Casa de Misericórdia de Jequié, subiu no ringue contra Cocá, amparado pelo arquirrival do prefeito, o deputado federal Antônio Brito.

Choques na oposição

Apesar de governar de fato menos de 100 dos 417 municípios baianos, o que lhe dá menor margem para rachas, a oposição tem lá seus atritos para gerir este ano. A começar por Feira de Santana, joia da coroa eleitoral do interior baiano. Com quase 425 mil cidadãos aptos a votar, Feira viu o bloco oposicionista rachar diante da decisão do deputado estadual Pablo Roberto (PSDB) de manter o nome no tabuleiro, ainda que isso signifique favorecer o deputado federal Zé Neto (PT) no tête- -à-tête contra o popular ex-prefeito José Ronaldo (União Brasil).

Em Vitória da Conquista, segunda maior cidade do interior, o quadro é inverso. No município, a veterana vereadora Lúcia Rocha (MDB) virou dor de cabeça nos planos do PT de eleger o deputado federal Waldenor Pereira. No momento, a tendência é que tanto ela quanto ele permaneçam na corrida, para o agrado da prefeita Sheila Lemos (União Brasil), que vê na divisão de chapas da base petista a chance de renovar o mandato até 2028. Sonho parecido tem o prefeito de Barreiras, Zito Barbosa (União Brasil), que espera eleger o sucessor, o vereador Otoniel Teixeira, no vácuo do conflito entre o ex-deputado federal Carlos Tito, bolsonarista que migrou para o PT, e o Daniel Henrique (PP), filho do deputado estadual Antônio Henrique, aliado do governo.

"É no murro"

Conhecida pelas disputas políticas acirradas, Irecê está literalmente à beira da batalha campal. De um lado, está o candidato do prefeito Elmo Vaz (PSB), Murilo Franca, vereador licenciado e ex-secretário municipal de Governo. Do outro, o vereador Figueiredo Amorim, que rompeu com Vaz, se desfiliou do PSB e entrou no PDT. Antes, Figueiredo era tido como um dos mais leais aliados do prefeito na Câmara Municipal, mas a relação desandou após ele perder espaço para Franca nas preferências do chefe político para a sucessão. Até aí, mais do mesmo em relação aos conflitos no interior. O caldo, contudo, entornou de vez com a entrada de um terceiro personagem.

Apoiador de Figueiredo, o ex-deputado e ex-prefeito de Irecê Joaci Dourado, integrante de uma família com longa linhagem na política local, distribuiu áudios no qual incita claramente integrantes do grupo liderado por ele a partirem para o confronto físico contra a turma adversária. “É no murro. Se não tiver murro, não é campanha! Estamos em campanha ou não? É nosso lado contra o deles. Antes do meio-dia terminar, é no murro. Não é na facada. Mas como tá aí não é campanha”, disparou Dourado.

A convocação para a pancadaria aberta ocorreu na manhã do sábado passado, após Dourado se irritar com um ato realizado pela pré-campanha de Murilo Franca na praça Airton Senna, centro de Irecê. Nos áudios, o político se queixa de que a tropa inimiga tinha colocado o batalhão na rua com direito a carro de som e militância numerosa, enquanto o exército de Figueiredo permanecia paralisado. A sugestão foi invadir o espaço do concorrente à base de socos. As declarações criaram mal-estar junto ao eleitorado, sobretudo, pelo avanço da violência em uma das mais importantes cidades do semiárido.