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Agro é tóxico: lobby e propagandas escondem real impacto dos agrotóxicos

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Agro é tóxico: lobby e propagandas escondem real impacto dos agrotóxicos

Exilada do Brasil após perseguições por conta de suas pesquisas, geógrafa Larissa Bombardi fala sobre lobby e propagandas do agronegócio

Agro é tóxico: lobby e propagandas escondem real impacto dos agrotóxicos

Foto: Reprodução/Freepik

Por: Metro1 no dia 20 de junho de 2024 às 00:15

Na televisão - ou pelo menos no slogan das propagandas transmitidas pela rede Globo desde 2016 -, o “agro é pop, o agro é tech, o agro é tudo”, é a “riqueza do Brasil”. Mas na realidade o atual modelo do agronegócio traz um risco para a verdadeira riqueza do país: sua população. Em participação no programa Três Pontos, a doutora em geografia pela USP (Universidade de São Paulo) Larissa Lombardi fez um alerta sobre a quantidade de agrotóxico consumida no país por conta deste modelo que camufla seus prejuízos por trás de um poderoso lobby e da falsa narrativa de combate à fome.

Larissa precisou se exilar na Bélgica após sofrer perseguições e ameaças no Brasil por conta de seus trabalhos acadêmicos sobre agrotóxicos no país. Autores de outras pesquisas também sofrem esse tipo de represália. Algumas delas já apontaram, citou a geógrafa, que o uso de agrotóxicos causou fenomenos como mudanças de sexo em sapos e crianças de dois anos com puberdade precoce - “e isso significa bebês com mamas e pelos pubianos”, destacou a geógrafa. O herbicida glifosato, por exemplo, tem sido apontado como a substância que causou a morte de 40 cães no Rio de Janeiro em maio. Apesar de ser comprovadamente cancerígeno, o agrotóxico é o mais utilizado no Brasil.

Maior consumidor do mundo

De acordo com Larissa, atualmente o país consome em média 720 mil toneladas de agrotóxicos por ano. É o que mais importa esse tipo de produto e um dos três que mais consome. Enquanto na União Europeia, houve uma queda de 3% no volume de agrotóxicos consumidos, no Brasil, no mesmo período, aumentou-se 78%. Para ela, esses números e a relativa falta de consciência da população sobre o assunto passam diretamente pelo lobby e propaganda desse setor. Isso porque, segundo Larissa, há por parte das empresas a construção de uma narrativa que busca naturalizar a existência dessas substâncias na agricultura. “Como esse slogan [Agro é Pop, agro é tech, agro é tudo], que traz como se fosse algo positivo, algo moderno, algo que é o necessário para produção de alimentos, estruturante para o combate à fome”, afirmou.

Lobby e narrativas tóxicas

“E é óbvio que tem também todo um lobby para, digamos, minimizar [a noção] do efeito dessas substâncias, para dizer que elas são importantes, que sem elas não existe agricultura, sem elas a gente não resolve o problema da fome. Essas indústrias atuam com um lobby impressionante, não só no Brasil, no mundo todo”, emendou a geógrafa.

Larissa rebate a narrativa de que os agrotóxicos são fundamentais no combate à fome com um dado: a quantidade de pessoas que passam fome na zona rural é superior proporcionalmente à população urbana que passa fome. Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE em abril, 5,5% dos domicílios na área rural estão em situação de insegurança alimentar grave, já nas cidades o índice é de 3,9%.

“O Brasil tem voltado, digamos, a sua economia para o mundo de uma forma extremamente subalterna que não responde aos anseios da população brasileira. Então, é um lobby, é uma narrativa, e uma historinha contada todos os dias, para que a gente ache que é assim mesmo que isso faz parte da agricultura”, afirmou