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Fechada há 13 anos, Casa de Retiro São Francisco resiste à especulação imobiliária em um dos bairros mais caros de Salvador
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Fechada há 13 anos, Casa de Retiro São Francisco resiste à especulação imobiliária em um dos bairros mais caros de Salvador
Fundada em 1949 pelo frei franciscano alemão Hidelbrando Krutaup, por meio de doações, o espaço serviu de hospedagem para turismo religioso
Foto: Reprodução/My Phantom Toy
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 13 de junho de 2024
“Existia no coração de Salvador, na rua Waldemar Falcão, em Brotas, ao lado do Candeal, um oásis de calma e sossego. Um monumento aberto ao silêncio e à paz”. Assim descreveu o professor e apresentador Jorge Portugal a antiga Casa de Retiro São Francisco, que fechou as portas há 13 anos e, desde então, está em situação de abandono e envelhecimento.
Fundada em 1949 pelo frei franciscano alemão Hidelbrando Krutaup, por meio de doações, o espaço serviu de hospedagem para turismo religioso, centro de eventos culturais e atendimento médico de graça à comunidade. O prestígio social e crença na sua representatividade fizeram com que nomes importantes da construção imobiliária como Norberto Odebrecht ajudassem voluntariamente na construção do espaço, é o que explica o historiador Murio Mello.
“Ao longo do tempo, houve uma ampliação do espaço, que não pertencia originalmente, e que Odebrecht e outros tantos lutaram para que fosse anexada, para que não fizesse parte da especulação imobiliária”, contou.
Antes de ser fechado em 2011, o espaço funcionou por 64 anos, mas uma multa de R$450 mil fez com que as atividades fossem interrompidas. Na época, moradores do entorno chegaram a denunciar uma possível venda para a quitação do débito, mas o Tribunal de Justiça da Bahia informou que o leilão do imóvel estava proibido por decisão dos conselheiros. Autor da página de imagens áereas My Phantom Toy, o fotógrafo Carlos Santigo esteve no espaço recentemente e detalhou a situação.
“Estava completamente abandonado e o seu telhado destruído. O ponto de maior atenção estava na pilha de vasos sanitários e pias armazenados na varanda, deixando a clara impressão que o seu interior está sendo desmontado ou reformado”, descreveu.
Considerada uma das únicas três construções neocoloniais de Salvador pelo IPAC, o casarão também era um dos poucos retiros espirituais na América Latina com a possibilidade de “isolamento” dentro da própria cidade, lembra Louti Bahia, especialista em desenvolvimento regional, urbano e ambiental. Segundo ele, no espaço, as pessoas encontravam contato com a natureza e silêncio, “uma das coisas mais caras de Salvador”.
Após anos com as portas fechadas, o receio de Louti é que o local se perca para a possível construção de empreendimentos. “Infelizmente tudo está sendo destruído pela lógica do mercado imobiliário. Como é uma região de altíssimo valor imobiliário, e uma área total muito grande, dá para fazer um ou mais empreendimentos de luxo, de alto luxo, então provavelmente, eu imagino, essa é a motivação do fechamento”, completou.
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