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Modus faca no pescoço: O que está por trás do conflito entre Arthur Lira e Alexandre Padilha
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Modus faca no pescoço: O que está por trás do conflito entre Arthur Lira e Alexandre Padilha
O presidente da Câmara dos Deputados chamou o ministro de "incompetente" e "desafeto pessoal", expondo publicamente o desgaste entre o Planalto e a Câmara
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 18 de abril de 2024
O modus faca no pescoço voltou a ser ativado na presidência da Câmara dos Deputados, expondo desgastes e acirrando o embate entre a Casa e o Palácio do Planalto. O ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, foi chamado publicamente de “incompetente” e “desafeto pessoal” pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ele acusa o ministro de vazar notícias para desestabilizar e enfraquecer o parlamento. As declarações movimentaram a cena política e geraram respostas do próprio Padilha, do presidente Lula e até do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Não é a primeira vez que Lira ativa esse modus operandi de maneira tão escancarada. No ano passado, em meio às negociações para a chamada MP dos Ministérios, o parlamentar chegou a afirmar que o Congresso não poderia ser culpado por uma derrota do presidente Lula porque o “problema estava no Planalto”. Por trás disso, estava a cobrança do centrão por agilidade na liberação de emendas e na nomeação de cargos.
De lá para cá, Lira já conseguiu mais espaço no primeiro escalão do governo: por sua indicação, André Fufuca (PP-MA) passou a comandar o Ministério do Esporte. E na presidência da Caixa Econômica Federal assumiu Carlos Vieira, apadrinhado do presidente da Câmara. Ainda assim, algo incomoda Lira. O jornalista e escritor Bernardo Mello Franco, em entrevista à Rádio Metropole, explicou o motivo do descontentamento: o fim do orçamento secreto e das emendas. Para ele, essa é uma disputa por “poder e dinheiro do orçamento da União”.
“Tudo que envolve Lira tem que ser visto por essa perspectiva. Você tem um presidente da Câmara que se acostumou, no governo passado, a mandar no Orçamento da República. O orçamento secreto, as emendas pix, uma série de mecanismos que foram feitos no governo Bolsonaro e que deram um poder quase absoluto sobre a destinação do dinheiro público. Quem estava governando de fato era Lira, o centrão. Isso mudou desde o começo do governo Lula, primeiro porque o Supremo acabou com o orçamento secreto, e depois porque o governo introduziu a ideia de ter ministros decidindo para onde vai o dinheiro público”, apontou o jornalista.
O presidente da Câmara é historicamente um personagem poderoso, afinal ele está na linha de sucessão do presidente da República. No caso de Lira, há um outro fator: o governo não tem maioria no Congresso. Os partidos de esquerda somam cerca de 30 votos dos 513 deputados. Mas só para aprovar um projeto de maioria simples, é preciso 257 votos. Essa correlação de forças deixa o presidente da República na mão do presidente da Câmara, seja ele quem for.
“O Lira é herdeiro direto do Eduardo Cunha, estamos falando de alguém que tem aprendeu a regra da negociação com a faca no pescoço [...] O problema do Lira não é o Padilha, é a existência de um ministro que cuide da articulação política, porque no governo Bolsonaro era ele que fazia isso”, explicou.
A sucessão na Câmara
Em resposta aos ataques de Lira, Lula afirmou que “só por teimosia” deixaria Padilha na função. A declaração pode até ter parecido uma defesa ao ministro, mas, para a jornalista Eliane Cantanhêde, também entrevistada na Metropole, dá a impressão de que foi o próprio Lira que deu uma sobrevida a Padilha.
“Não acho que Padilha está com essa bola toda, é possível que ele esteja sendo preparado para algum ministério”, disse a jornalista, revelando, que nos bastidores já circulam informações de que ele pode assumir o Ministério da Saúde. Para Cantanhêde, além do orçamento, Lira carrega outro motivo de insatisfação: a ausência de apoio a seu candidato na disputa pela sucessão na presidência da Câmara, o deputado federal baiano Elmar Nascimento (União). “Por que o governo não quer apoiar? Porque apoiar é desagradar outros”, destacou.
Esse embate e outros entre os três Poderes vêm trazendo impactos para o país. “Estamos em meados de abril e cadê a pauta econômica? Ano passado teve até a Reforma Tributária, que ficou 30 anos esperando e saiu. Mas 2024 [parece que] não começou”, analisou.
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