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Crime do Motel Vips: há 40 anos, operário era morto na Bahia por mania de deixar marca nos lugares onde passava

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Crime do Motel Vips: há 40 anos, operário era morto na Bahia por mania de deixar marca nos lugares onde passava

Acostumado a escrever sua inicial por onde passava, o operário Zigomar Sacramento foi morto, em setembro de 1984, por deixar essa marca em um quarto do Motel Vip’s, na Estrada do Coco

Crime do Motel Vips: há 40 anos, operário era morto na Bahia por mania de deixar marca nos lugares onde passava

Foto: Pixabay/PT

Por: Jaciara Santos no dia 09 de fevereiro de 2023 às 13:43

Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 9 de fevereiro de 2023

Já quarentão e pai de família, o operário Zigomar Albuquerque do Sacramento agia, às vezes, como um garoto. Gostava de marcar os locais por onde passava com a inicial do seu nome, o Z. Nunca explicou o porquê dessa mania. Em 30 de setembro de 1984, o hábito lhe custaria a vida.

Eram 12h30 daquele domingo de primavera, quando Zigomar chega ao Motel Vip’s, na Estrada do Coco. Celebrava 20 anos de união com Edina Maria, 39, mãe de oito de seus nove filhos. Mas ele já estivera ali, com a amante. Os dois tinham uma filha, então com um ano de idade.

Após duas horas no quarto 315, Zigomar e Edina estão de saída. Mas são barrados. Ao vistoriar o apartamento, a camareira vê a parede riscada e avisa à portaria. Informados, os espanhóis Francisco Ramiro Ferreiro Espasadim, 26, e Isauro Pazos Gerpe, 37, sócios-gerentes do motel, decidem punir o vândalo. Há muito que o procuravam.

Ao volante do Monza AZ-8083, Isauro bloqueia o carro de Zigomar. E, ali mesmo, o agride a pauladas. Denúncia do Ministério Público relata que a vítima é levada de volta ao quarto 315 e torturada por cinco horas. Diante de três empregados – uma camareira, um garçom e um cozinheiro.

Zigomar pede desculpas e se compromete a ressarcir os danos. Oferece seu táxi, o Monza de placa CC-7551, que usava nas horas vagas para complementar o salário. Propõe assinar cheques em branco. Em vão. Isauro e Francisco não aceitam acordo. Querem vingança.

Enquanto o marido era massacrado, Edina é trancada no depósito de bebidas, de onde só sai depois das 22h. Vai direto à 23ª Delegacia (Lauro de Freitas) e conta o que suspeitava ter acontecido. Mas as investigações só têm início às 7h do dia seguinte, quando o corpo de Zigomar é encontrado, dentro do próprio carro, atrás do motel Emoções, no bairro de Itinga, a 2 km do Vip’s.

A polícia perdeu o timing. As primeiras horas após um homicídio são decisivas. Quando, em 10 de outubro, o juiz Moacir Pitta Lima, da 2ª Vara Privativa do Júri, decreta a prisão preventiva dos suspeitos, eles já estavam longe. Seis dias depois, chegam a Portugal.

Em 2008, Francisco é preso no aeroporto internacional do Rio de Janeiro. Voltara ao Brasil e tentava embarcar para a Espanha. Trazido à Bahia, em março de 2011, após 27 anos, finalmente responderia pela morte de Zigomar. Em sessão que durou 11 horas, é condenado a 30 anos de prisão. Na sentença, o juiz José Vilebaldo Pereira sustenta: “A forma desumana como [o réu] agiu causou profunda indignação, merecendo severo apenamento”.

Francisco cumpriu parte da sentença em Salvador, na Penitenciária Lemos Brito. Em 2015, “por razões humanitárias”, é beneficiado pelo  instituto da Transferência de Pessoas Condenadas (TPC) e ingressa no sistema penal espanhol. Isauro permanece em fuga. Segundo dados do Tribunal de Justiça da Bahia, o processo contra ele continua ativo