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Muralha da democracia: Bahia garante terceiro mandato de Lula e evita retrocessos no país

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Muralha da democracia: Bahia garante terceiro mandato de Lula e evita retrocessos no país

Se o Nordeste teve importância fundamental na vitória de Lula e na consequente manutenção da democracia, os números revelados pelas urnas na região geraram reações em todo o país

Muralha da democracia: Bahia garante terceiro mandato de Lula e evita retrocessos no país

Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Por: Gabriel Amorim/Rodrigo Daniel Silva no dia 04 de novembro de 2022 às 11:45

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 4 de novembro de 2022

“Isso, vamos usar a Bahia como exemplo do Brasil que queremos, não São Paulo ou Paraná”, escreveu, com ironia, o economista bolsonarista Rodrigo Constantino em uma publicação no Twitter. A reação dele e de outros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) mostra como a Bahia teve um papel relevante para preservar a democracia brasileira no último dia 30 de outubro. Foi em território baiano que o agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conquistou cerca de 10% dos votos obtidos.

A votação expressiva na Bahia, com 3,7 milhões a mais do que Bolsonaro, garantiu a Lula um terceiro mandato presidencial, mas assegurou, principalmente, ao país a certeza de que não irá para um caminho de autoritarismo e retrocesso democrático. Integrantes da campanha governista trabalhavam para que Bolsonaro tivesse no estado entre 30% a 32% dos sufrágios. A leitura era de que, se o presidente ampliasse a votação, conseguiria vencer a disputa nacional. Mas, mesmo com três visitas a cidades baianas nesta eleição, ele manteve os mesmos 27% obtidos no segundo turno da eleição de 2018.

Para o historiador e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Carlos Zacarias, a Bahia foi “bastião da resistência” ao bolsonarismo no país. “Os votos de Lula na Bahia terminaram por contribuir de maneira inconteste para que a democracia fosse preservada, já que estava indo para a bancarrota. As políticas públicas no governo Lula ainda são sentidas pelos baianos e pelos demais nordestinos, como algo importante que precisa ser resgatado”, acrescentou. 

Na mesma linha, o historiador Marco Antonio Villa lembra que a Bahia já tinha sido decisiva para o Brasil no século 19, quando consolidou a Independência do país de Portugal. “Nós devemos a vitória eleitoral da civilização contra a barbárie ao Nordeste. Nós não podemos esquecer disso”, frisou, em entrevista à Rádio Metropole. O Nordeste foi a única região em que Lula teve mais votos do que Bolsonaro. Foram 69,34% dos votos válidos contra 30,66%.

O presidente eleito fez questão de agradecer a votação obtida no Nordeste, durante discurso feito na Avenida Paulista em São Paulo. “Hoje é dia de nós agradecermos a um povo extraordinário, um povo que foi ofendido pelo meu adversário, que é o nosso querido povo nordestino, que nos consagrou com essa vitória extraordinária. Eu quero agradecer aos 215 milhões de habitantes, mas o povo do Nordeste merece uma palavra especial, porque aquele povo foi muito porreta”, salientou.

“Desabafos” xenofóbicos

Se o Nordeste teve importância fundamental na vitória de Lula e na consequente manutenção da democracia, os números revelados pelas urnas na região geraram reações em todo o país. Entre as reações mais absurdas estão: pedido de intervenção militar, de prisão de ministros do STF, uso de símbolos nazistas e ataques incontáveis aos nordestinos.

Os ataques que mais repercutiram, incluem postagens nas redes sociais que chamam os nordestinos de “carrapatos”. “Ganhamos onde se produz, perdemos onde se passa férias. Bora trabalhar, porque se o gado morrer, o carrapato passa fome”, escreveu Ângela Machado, diretora do Flamengo e esposa do presidente Rodolfo Landim. Landim defendeu a mulher após a repercussão. “Ela tem o direito de se posicionar”, afirmou o dirigente.

Outro caso de grande repercussão atacou diretamente os baianos. Ainda no dia 30, quando o resultado das eleições foi confirmado, um empresário catarinense afirmou que os baianos “deviam ficar na merda". “Quando vocês vêm pra cá querendo uma vida melhor nos damos isso pra vocês”, esbravejou Newton Patricio Crespi pedindo por golpe militar. “Bolsonaro devia ser homem suficiente pra invocar as Forças Armadas para colocar o STF e o TSE no lugar deles”, incitou. Após a repercussão, o empresário também chamou o discurso preconceituoso de “desabafo”.

Enquanto as redes sociais se enchem dos mais diferentes ataques aos nordestinos, quem não está feliz com o resultado das urnas se espalha por vários pontos do país usando símbolos nazistas para protestar em atos antidemocráticos. Um grupo de manifestantes bolsonaristas realizou um gesto que remete à saudação nazista “Sieg Heil”. O protesto aconteceu na última quarta em São Miguel do Oeste, cidade que fica em Santa Catarina.

Durante a execução do Hino Nacional, centenas de homens e mulheres estenderam as mãos fazendo o gesto. A saudação, que significa “salve a vitória” e, muitas vezes, também era usada por nazistas como “Heil Hitler”, “Salve Hitler” do alemão, já foi utilizada por apoiadores do presidente em outras ocasiões. Agora, o Ministério Público de Santa Catarina vai investigar os atos.