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Com risco de Bolsonaro desrespeitar lista tríplice, Ufba escolhe novo reitor em maio
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Com risco de Bolsonaro desrespeitar lista tríplice, Ufba escolhe novo reitor em maio
Comunidade ainda se preocupa diante do silêncio de uma das chapas sobre não constar na relação final, caso seja derrotada
Foto: Dário Guimarães / Metropress
Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 21 de abril de 2022
Para cerca de 54 mil baianos, a ida às urnas vai chegar mais cedo. Antes de decidir sobre o futuro dos cargos políticos do Brasil, a comunidade acadêmica da Universidade Federal da Bahia (Ufba) será ouvida sobre o que deseja para a instituição, entre os dias 24 e 25 de maio. Em dois dias, será escolhido o próximo reitor da instituição, que ocupará o cargo no quadriênio 2022-2026. Duas chapas estão oficialmente inscritas.
Segundo dados mais recentes, do levantamento da própria Ufba, são 3.074 técnicos, 2.748 professores e 48.525 estudantes, entre alunos de pós e de graduação. Cada um dos três grupos tem um voto de mesmo peso para indicar a vontade da comunidade acadêmica sobre a direção da universidade. A votação, no entanto, não representa uma eleição direta, mas apenas uma indicação. A decisão final cabe ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e é aí que tem estado a preocupação de muitos dos envolvidos na consulta que se aproxima.
É que para escolher, Bolsonaro receberá a chamada lista tríplice, com três conjuntos de candidatos a reitor e vice-reitor, além da indicação daqueles que foram os mais votados pela comunidade. O presidente, contudo, pode nomear livremente qualquer um dos nomes da lista. Há uma tradição de sempre escolher o mais votado pela comunidade acadêmica, mas, desde que se tornou chefe do Executivo, Bolsonaro vem modificando o modelo. Das 50 nomeações já feitas pelo atual presidente, 19 — ou cerca de 40% — não foram direcionadas aos primeiros colocados da lista. A última vez em que a tradição foi desrespeitada foi em 1998, durante o governo de Fernando Henrique (PSDB). Até o fim de seu mandato, Bolsonaro ainda nomeará outros 13 reitores, incluindo o da Ufba, cuja posse ocorrerá no meio deste ano.
A Universidade Federal da Bahia foi citada nominalmente no governo Bolsonaro quando Abraham Weintraub era ministro da Educação. Á época, em 2019, ele classificou a instituição como exemplo de “balbúrdia” e ameaçou contingenciamento de verba.
OUTRO MEDO
Se a decisão do presidente Jair Bolsonaro é imprevisível e preocupa, outras tradições também podem ser desrespeitadas neste processo eleitoral. Como a eleição realizada com a comunidade tem apenas caráter de consulta, a lista tríplice é montada pelo colégio eleitoral oficial da Ufba, composta, segundo informações da própria universidade, pelos membros do Conselho Universitário (Consuni) e do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe).
Historicamente, após a consulta à comunidade, apenas a chapa vencedora da eleição é inscrita na lista, completada com outros nomes, decididos pelos conselhos. As chapas que participaram da consulta e não saíram vitoriosas acabavam por abandonar a disputa como forma de respeitar a vontade da comunidade. Neste ano, segundo apurou o Jornal da Metropole, membros da Ufba estão preocupados que a tradição não seja respeitada.
Cabeça da chapa 1 — ‘Somos Ufba Sempre’ —, o atual vice-reitor Paulo Miguez, afirmou que não pedirá a inclusão de seu nome e nem seu candidato a vice, o professor Penildon Silva Filho, na lista tríplice caso não saia vitorioso da eleição. “A nossa chapa só aceitará integrar a lista se vencer a consulta. Nosso objetivo não é estar na lista, mas representar o desejo da comunidade da universidade”, afirmou em entrevista a Rádio Metropole. Não há certeza, no entanto, de que a mesma postura será tomada pelos membros da Chapa 2, o que preocupa integrantes da comunidade acadêmica.
A Chapa 2, batizada de ‘UFBA Inclusiva e Diversa em Defesa da Ciência e da Vida', é encabeçada pelo professor Fernando Conceição, da Faculdade de Comunicação. Ele está acompanhado do professor André Gusmão Cunha, que teve sua candidatura a vice-reitor deferida na última terça-feira, depois que a primeira candidata ao cargo na chapa, a professora Bárbara Carine Soares, desistiu de concorrer. Toda a instabilidade em volta da candidatura tem gerado preocupações na comunidade.
O professor Fernando Conceição foi procurado diversas vezes pela reportagem nos últimos dias para comentar suas propostas e falar sobre seu compromisso em respeitar a lista, mas não atendeu aos contatos. Sem a certeza que a tradição será cumprida, a comunidade acadêmica se prepara para o novo pleito, em um cenário de corte de verbas e ataques constantes do governo federal.
CORTE DE VERBAS
Para além de todas as incertezas que tem rondado cada uma das fases do processo de escolha do novo reitor, o desafio de dirigir a Ufba preocupa qualquer candidato ao cargo. Acusada publicamente de ‘balbúrdia’ na gestão de Bolsonaro, a instituição vem sofrendo cortes sucessivos em seu orçamento, o que torna ainda mais árduo o trabalho de dirigi-la.
Segundo dados divulgados pela própria universidade, a redução orçamentária vem acontecendo desde 2015 e se intensificou nos últimos anos. Há sete anos, o orçamento de custeio era de cerca de R$ 195 milhões, o que comparado com os R$ 153 milhões destinados em 2022 representa uma redução acumulada de 21%. Na comparação dos últimos três anos, 2022 tem um orçamento um pouco maior do que o destinado em 2021 — foram R$ 128 milhões. Ainda assim, está em defasagem em relação a 2020 quando a verba era R$ 163 milhões. A queda nos números, aliada aos constantes ataques do governo federal às próprias universidades, torna ainda mais importante o resultado das eleições que se aproximam para quem quer defender uma universidade pública, gratuita e de qualidade.
“Está em jogo muita coisa. Todo um projeto de resistência tocado nesses últimos anos. Enfrento essa campanha para seguir defendendo a ciência e a universidade que tanto foram atacadas nos últimos tempos”, acredita Miguez, candidato da chapa 1.
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