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1994: há 30 anos uma safra incrível de discos sacudiu a música brasileira

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1994: há 30 anos uma safra incrível de discos sacudiu a música brasileira

Entre os destaques "Da Lama ao Caos", “Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão” e "Só Pra Contrariar"

1994: há 30 anos uma safra incrível de discos sacudiu a música brasileira

Foto: Montagem Metropress / Divulgação

Por: James Martins no dia 20 de maio de 2024 às 14:14

Neste ano de 2024, uma incrível safra de discos comemora 30 anos. Lançados todos (obviamente) em 1994, os CD’s (que era a mídia forte da época) sacudiram a música popular brasileira nos mais variados estilos: desde Chico Science & Nação Zumbi com “Da Lama ao Caos”, manifesto da Cena Mangue de Recife, até o “Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão” que mostrou tudo (ou quase tudo) do que Marisa Monte era capaz. Passando por “Calango”, do Skank, sucesso de vendas, e o disco que salvou Cássia Eller.

Sem enrolação, curta a lista abaixo:  

“Da Lama ao Caos” – Chico Science & Nação Zumbi
Apesar de ter vendido pouco no primeiro momento, especialmente em comparação com lançamentos do mesmo selo Chaos, da gravadora Sony, hoje esse disco é um dos mais prestigiados do período e da história da MPB. Revolucionário em todos os aspectos, a começar da capa do cineasta Hilton Lacerda, o encarte trazia o manifesto “Caranguejos com Cérebro”, de Fred ZeroQuatro, lançando as bases da Cena Mangue, que a indústria batizou vulgarmente de MangueBeat. 

As músicas “A Cidade” e “A Praieira” foram incluídas em trilhas sonoras de novelas da Globo, iniciando a assimilação do som inovador que misturava maracatu, baixo funkeado, psicodelia e hip hop. A produção é de Liminha. Em 2007, ocupou a 13ª posição da lista dos 100 Melhores Discos da Música Brasileira, da revista Rolling Stone.    

“Calango” – Skank
Já o segundo disco da banda mineira Skank foi um estrondoso e instantâneo sucesso de público. Lançamento do mesmo selo Chaos, emplacou muitos hits nas rádios, como “Pacato Cidadão”, “Jackie Tequila", "Esmola" e "Te Ver" e chegou a vender mais de 1 milhão de cópias.

Maior fenômeno da música de Minas Gerais desde o Clube da Esquina, o Skank trouxe uma versão muito particular do ska e do reggae (nessa fase eles estavam mais pra Jamaica que para Londres), com arranjos de metais envolventes e sofisticados. A produção é da própria banda em colaboração com Dudu Marote e Marcos Gauguin.  

“Sobre Todas as Forças” – Cidade Negra
Primeiro disco da banda com Toni Garrido no vocal, também foi uma febre nas festas daqueles meados dos anos 90. Basta citar os títulos de algumas músicas para comprovar (e deixar saudades): “Doutor”, “Onde Você Mora?”, "A Sombra da Maldade" e "Pensamento". Tem participações especiais de Gabriel o Pensador e Shabba Ranks, música de Samuel Rosa & Chico Amaral (“Luta de Classes”), a dupla de compositores do Skank, fortalecendo a cena, e produção de Liminha. 

“Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão” – Marisa Monte
Até hoje esse é tido como o melhor disco de Marisa. Terceiro de sua carreira e o primeiro co-produzido pela própria, em parceria com Arto Lindsay, traz o título extraído de uma música de Carlinhos Brown que não está no mesmo: “Seo Zé”. Aliás, a presença de Brown é fundamental para o trabalho. O violão de Gilberto Gil nas faixas “Dança da Solidão” e “Balança Pema” outro altíssimo luxo. No encarte, a inovação de apresentar as cifras das músicas. O clipe de “Segue o Seco” colocou a produção dos filmetes no Brasil em outro patamar. Etc etc etc.

“Raimundos” – Raimundos
Porrada da porr* foi o disco de estreia da banda de Brasília. O lance de abrasileirar a influência dos Ramones (daí Raimundos) e a criação do ritmo forró-core é similar em importância às misturas dos pernambucanos do movimento mangue. O CD foi lançado pelo lendário selo Banguela Records, empreitada da banda Titãs em parceria com o produtor Carlos Eduardo Miranda, que assina o trabalho. Som pesado e letras humoradas. Entre Chico Science e Mamonas Assassinas? O fato é que era genial!

“Cássia Eller” – Cássia Eller
Para começar, tem o seguinte: esse disco salvou a carreira de Cássia, que estava decidida a pedir demissão da gravadora Polygram devido aos fracassos retumbantes de seus trabalhos anteriores. Por isso mesmo, o álbum que trouxe “Malandragem” e “E.C.T." foi gravado quase clandestinamente no estúdio pessoal do produtor Guto Graça Mello. Aqui a cantora encontrou uma suavidade que já era dela, mas que parece que maternidade (é o primeiro trabalho pós-nascimento de Chicão) aflorou. A gravadora sentiu logo o cheiro do sucesso e, ufa, salvamos uma de nossas intérpretes mais marcantes.  

“Samba Esquema Noise” – Mundo Livre S/A
Há quem considere o disco do Mundo Livre melhor até que o de CSNZ: mais definido, sedimentado. Seja como for, a mistura de sons eletrônicos, batidas de maracatu, samba, rock, e samba-rock com letras que são verdadeiras crônicas do cotidiano urbano tem um lugar especial na discografia nacional. A faixa de abertura, “Manguebit” vale por um manifesto e é mais atual do que nunca: “Informações entram pelas narinas”. O percussionista era Otto. O CD também saiu pelo Banguela Records.

“A Fábrica do Poema” – Adriana Calcanhotto
Aparentemente partindo sempre das letras (poemas), o terceiro álbum de Adriana exala sofisticação e, numa inegável demonstração de vigor da indústria naquele período, ganhou Disco de Ouro. "Metade", música e letra da própria, é um sucesso nas rádios até hoje. Dentre as proezas, a artista musicou textos do cineasta Joaquim Pedro de Andrade e Gertrude Stein, além do aparentemente não-musical poema de Waly Salomão que dá nome ao CD. Com a luxuosa participação de Augusto de Campos declamando o baiano Pedro Kilkerry (1885-1917).

“Só Pra Contrariar” – Só Pra Contrariar
O segundo álbum de estúdio do grupo de pagode mostrou que Minas também dá samba. O disco vendeu em torno de 800 mil cópias e ajudou a consolidar o gênero como sucesso nacional. Entre os hits, destacam-se "Meu Jeito de Ser", "É Bom Demais'', "Essa Tal Liberdade", "Te Amar Sem Medo", "O Amor, Você E Eu" e "Você Vai Voltar Pra Mim". A produção é assinada por Jorge Cardoso.
 
“O Rappa” – O Rappa
O disco de estreia da banda bolada por Marcelo Yuka era quase uma versão mais engajada do Cidade Negra. Tendo no reggae uma de suas principais referências, com interessantes pesquisas de timbre e politização acentuada. Destaque para “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro” e a versão de “Take It Easy My Brother Charles", de Jorge Benjor. Com direito à participação especial de Bezerra da Silva na faixa 11: “Candidato Caô Caô”. A produção é de Fábio Henriques e O Rappa. 

Brinde: Mamonas Assassinas (fita demo)
O fenomenal disco dos Mamonas só saiu no ano seguinte, mas eles fizeram a fita demo que abriu as portas para o sucesso em 1994. No estúdio do produtor Rick Bonadio, numa madrugada de outubro daquele ano, Dinho, Bento Hinoto, Samuel Reoli, Júlio Rasec e Sérgio Reoli gravaram duas músicas: “Mina (Minha Pitchulinha)”, que mais tarde seria rebatizada como “Pelados em Santos”, e “Robocop Gay”. Segundo o técnico de som Rodrigo Castanho, que acompanhou a gravação, a maior parte das letras foi feita na hora de gravar. O resto é história. Infelizmente interrompida precocemente.