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'Me sentia violentada e achava que estava errada', diz pedagoga que denunciou guru na Bahia

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'Me sentia violentada e achava que estava errada', diz pedagoga que denunciou guru na Bahia

Tatiana Badaró se uniu a um grupo e passou a denunciar líder espiritual por abusos em fundação: 'Você está diante de uma pessoa que não consegue negar'

'Me sentia violentada e achava que estava errada', diz pedagoga que denunciou guru na Bahia

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 03 de agosto de 2020 às 09:45

A pedagoga Tatiana Amorim Badaró narrou os abusos sexuais e patrimoniais sofridos por ela por 12 anos pelo líder religioso e ex-grão-mestre e uma loja maçônica na Bahia, Jair Tércio Cunha Costa. A denúncia foi feita por ela ontem (2) no programa Fantástico, da TV Globo. Em entrevista a Mário Kertész hoje (3), na Rádio Metrópole, ela deu detalhes sobre o fato dela ter engravidado aos 16 anos iniciou uma série de manipulações por parte de Jair Tércio na vida dela.

"Não tem outra forma de falar se não em domínio. Ele se coloca como a única pessoa confiável na vida de todos aqueles que fazem parte da fundação OCIDEMNTE e controla cada passo da vida dessas pessoas. Desde o princípio ele tentou fazer o mesmo comigo. Mas antes de eu engravidar, dos 15 aos 16 anos, eu não aceitava porque não foi assim que minha mãe me educou. Ela me educou para eu ser livre e fazer as minhas escolhas. Mas quando você engravida aos 16 anos, você fica sem chão", contou a pedagoga.

"O que as pessoas não entendem é que, quando você tem um ambiente como a Fundação OCIDEMNTE se coloca como sócio-religioso, mas de fato é um ambiente dogmático e você busca uma fé, você não tem mais defesa. Você coloca suas defesas para baixo e você se abre para ser acolhido e apoiado. Era isso que eu apoiava naquele momento, apoio para conseguir lidar com uma gravidez na adolescência e eu conseguir manter a minha vida e criar minha filha da melhor maneira. Assim Jair Tércio se colocou em minha vida, dizendo que ele seria a minha salvação, mas também a salvação de minha filha", narrou. 

Ainda de acordo com Tatiana, ao iniciar um namoro e ter engravidado ainda quando jovem, ela buscou o líder religioso para tentar encontrar um apoio para evitar ficar sozinha. "Muito honestamente, naquele momento o que eu não queria era ficar sozinha com aquele bebê aos 17 anos. Engravidei aos 16 e teria minha filha aos 17. Se aquela era a condição, então eu iria aceitar aquela condição para eu não ser mãe solteira aos 17 anos", afirmou. 

Abusos sexuais 

Questionada, Tatiana Badaró afirmou que sofreu abusos sexuais a partir dos 21 anos. Ela passou a ter encontros com Jair Tércio no apartamento dele, no Corredor da Vitória. Segundo a denúncia, o líder religioso dizia que era uma forma de "purificar" a jovem e que ele era um ser "iluminado".

"Os abusos sexuais demoraram quatro anos para começar. Eu chego em 2002, quando eu começo a namorar com Vitor, em 2003 eu engravido e aí em 2004 vou fazer o vestibular, quero fazer Medicina, ele diz que não porque eu não tenho espiritualização suficiente e então eu preciso me educar porque eu preciso moralizar, porque eu sou muito promíscua, porque eu, aos 17 anos, já tinha estragado toda minha encarnação porque teria errado demais. A chance de diminuir os meus carmas era dedicar minha vida à obra divina, que era a Fundação Ocidente e ele", diz a pedagoga. 

Os abusos tinham hora marcada para acontecer, segundo Tatiana. Ela narra que teve outros relatos de mulheres que teriam sido sofrido os mesmos problemas. "Durante um ano, tinha horário marcado. Toda quarta-feira à noite. Eu tinha que ir para a casa dele no Corredor da Vitória para ajudar ele com os livros dele. Eu escrevi diversos dos livros dele e de Maribel Barreto. Eu ia para lá, ele falava que ia colocar a energia dele em mim e fazer um processo de cura. Chegou a dizer que eu tinha problema no ovário e que eu precisava me sutilizar. Dizia que eu estava recebendo muito conhecimento, que meu corpo físico não aguentaria e que, por isso, ele precisava colocar a energia dele em mim. Depois eu ficava lá escrevendo e me mandava de táxi para casa. Isso por pouco mais de um ano com hora marcada. Depois o argumento muda, não era para me sutilizar e que ele era um ser iluminado e que vivia numa matéria ainda bruta, que portanto precisaria descarregar. Ele só poderia descarregar comigo", afirmou a moça. 

A denúncia só foi feita ao grupo As Justiceiras, após Tatiana ser ameaçada. Ela descobriu que Jair Tércio também é acusado por outras mulheres. "Não foi só o celular dele que eu peguei, peguei o celular dele e de outras vítimas. As mensagens eram exatamente iguais. 'Preciso descarregar'", conta.

"Eu vivia um conflito imenso porque eu tinha o 'Iluminado' em minha frente, dizendo que eu precisava ajudar ele, só que eu não me senti assim. Você não nega a Deus, sabe? A grande violência e ardilosidade do abuso em meio religioso, na minha perspectiva, é que você está diante de uma pessoa que não consegue negar"

"Quando está diante de uma pessoa que se coloca dessa forma, ele diz que o que estava fazendo com você não é material, é um ritual de cura e espiritualização. Você não se sente no direito de negar. O grande conflito que eu sentia era justamente porque eu me sentia violentada e eu achava que eu estava errada em me sentir violentada", diz Tatiana. 

Líder religioso se defende

As promotoras do Ministério Público da Bahia (MP-BA) responsáveis pelo caso são Sara Gama e Márcia Teixeira. Ontem, na reportagem do Fantástico, o advogado de Jair Tércio, Fabiano Pimentel, negou os estupros, mas confirmou as relações sexuais. Segundo ele, "por ser uma pessoa solteira, um homem solteiro, o líder teve alguns relacionamentos amorosos, mas que em nenhum momento houve qualquer tipo de violência seja psicológica ou física a ensejar qualquer tipo de crime de estupro ou importunação nesse sentido". 

A Grande Loja Maçônica da Bahia disse, em nota, que suspendeu os direitos maçônicos de Jair Tércio. "A maçonaria não tem responsabilidade nenhuma com relação aos atos dessa pessoa", informa o órgão.