
Bahia
Entre disputas e embates, Câmara revoga terreno doado à UFRB e comunidade acadêmica reage
Com votação pela revogação ocorrida na última quarta-feira (12), comunidade acadêmica alega que decisão foi tomada sem tempo hábil para mobilização contrária

Foto: Reprodução
A Câmara de Vereadores de Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, decidiu pela revogação da doação de um terreno destinado à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) em uma sessão extraordinária na última quarta-feira (12). Por 13 votos contra 1, os vereadores aprovaram a retomada da área de 60,3 mil m², doada em 2012 à universidade, para que um supermercado atacadista seja construído no local, o que gerou indignação entre estudantes e professores da instituição.
Decisão rápida
O estudante Arivaldo Almeida, de 48 anos, denunciou a situação à Rádio Metrópole e criticou a rapidez da decisão. “Eles decidiram, de forma repentina, tirar da educação para entregar ao capital privado. Estamos indignados com essa falta de compromisso com a formação e o futuro da juventude”, afirmou. Segundo ele, a comunidade acadêmica foi surpreendida, sem tempo hábil para mobilização contrária.
Reação à maioria
A votação na Câmara foi marcada por intensos debates. A vereadora Luana Carvalho (PT) foi a única contra a revogação e, ao discursar contra a decisão e em prol da UFRB, foi vaiada por parte do público presente. Em sua fala, definiu a revogação como "um crime contra a educação pública de Santo Amaro" e acrescentou: "Peço desculpas à UFRB. A luta só está começando".
UFRB em indignação
Por meio de comunicado, a reitoria da UFRB declarou, nesta quinta-feira (13), sua “profunda indignação” com a decisão da Câmara de Vereadores de Santo Amaro. A universidade destacou seu impacto no desenvolvimento regional e criticou a postura da prefeitura que "rompe, de maneira unilateral, um pacto [entre governos municipais, estadual e federal]". A instituição alertou que a medida representa um "retrocesso" e reforçou sua disposição ao diálogo para garantir sua permanência no município.
Desafio orçamentário
A ideia inicial era converter as ruínas da antiga Fundição de Aço Tarzan em um centro acadêmico via Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, do governo federal. A UFRB aprovou, em 2013, o Campus de Santo Amaro e o do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas (CECULT). Desde o firmamento, aguarda recursos para a obra, que foi estimada em quatro anos. Em setembro de 2023, o governo anunciou nova fase do PAC, prevendo R$ 240 bilhões em investimentos. Atualmente, de acordo com estudantes, as instalações no prédio que a instituição ocupa são improvisadas, sem infraestrutura adequada para os cursos de artes, cultura e música.
Prefeitura justifica decisão
Em nota enviada ao Metro1, a Prefeitura de Santo Amaro afirmou que a revogação do terreno se deve à inatividade do projeto universitário. Segundo a gestão, a decisão destinará a área a empreendimentos que "trarão empregos e crescimento econômico". A prefeitura declarou que apoia a educação e lembrou a cessão do prédio do Colégio Senador Pedro Lago à UFRB, realizada em 2017 como prova. Além disso, disse estar disposta a discutir outras alternativas para a universidade.
Questionamento sobre impacto econômico
No entanto, Arivaldo Almeida acredita que a presença de uma universidade movimenta significativamente mais a economia local do que um supermercado. “A população foi convencida de que o supermercado trará empregos imediatos, mas ninguém considerou o impacto econômico que uma universidade gera a longo prazo”, afirmou. Além do retorno financeiro que a formação em uma universidade oferece, Almeida diz que há uma grande quantidade de estudantes que vão estudar na cidade, o que faz com que imóveis sejam alugados, mercados e negócios locais tenham a economia abastecida.
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