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“Adolescência”, da Netflix: como lidar com nossos monstrinhos?

“Adolescência”, da Netflix: como lidar com nossos monstrinhos?

O que a série nos mostra é um drama bem específico de nossa época, apesar de o sentimento de inadequação que muitos sentem na adolescência não ser nenhuma novidade

“Adolescência”, da Netflix: como lidar com nossos monstrinhos?

Foto: Reprodução

Por: James Martins no dia 27 de março de 2025 às 07:11

"Adolescência" é o título da nova mini-série da Netflix que, em quatro episódios, conta a história fictícia de um menino de 13 anos acusado de esfaquear até à morte uma colega de escola. O drama se estende, é claro, para a família do garoto. A da menina morta não aparece. As discussões provocadas são inúmeras e vêm se dando tanto nas redes sociais, nas ruas, como no Parlamento Britânico. Adolescência, o que é isso afinal? O compositor Caetano Veloso cunhou a palavra "adolescidade" na canção "Acrilírico", falando de Santo Amaro. E eu mesmo escrevi "juventura", para conjugar a aventura da juventude que, em grande medida se passa na adolescência. Fase difícil, dizem muitos. Uma diversão depois da outra, depõem outros. Há quem especule que Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, engravidou por volta dos 14 anos. Já era casada com o carpinteiro. Portanto, não haveria adolescência naquele período — um fenômeno recente cuja rebeldia deveria muito ao próprio cinema americano que gerou em parte o audiovisual de quem falamos aqui.

O que a série nos mostra é um drama bem específico de nossa época, apesar de o sentimento de inadequação que muitos sentem na adolescência não ser nenhuma novidade. Nem mesmo a distância em relação aos pais. Porém, com o advento das redes sociais, ampliando o alcance do bullying e podendo trazer mensagens esquisitas para dentro de casa, todas aquelas questões se reconfiguram e isso parece ser o foco principal das reflexões provocadas. O menino da série é atingido pela cultura incel (celibatários involuntários), algo de que muita gente normal sequer ouviu falar. São homens que culpam as mulheres (consideradas falsas, interesseiras etc) por sua própria virgindade compulsória. E muitas vezes pretendem puni-las.

Angustiante, dolorosa, a série abusa do plano sequência para ampliar o senso de realidade e envolvimento de quem assiste. Os pais precisam acompanhar mais de perto seus filhos, é o que ela parece nos dizer muitas vezes. Por outro lado, parte do deslocamento de meninos como o Jamie Miller vem justamente da superproteção e de falta de contato com o mundo real, busca de autonomia, incluindo enfrentar as frustrações inevitáveis. Pois é, meus amigos, como diria Kátia Cega: "não está sendo fácil" mais ainda.