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Uma queda sem justificativa
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Há uma enorme quantidade de brasileiros que ainda precisa que uma gringa nos informe que existe Machado de Assis
Foto: Reprodução
A história se repete. Sempre. Na semana passada, o Brasil descobriu um livro nacional após o mesmo viralizar como dica de uma influencer, uma tiktoker (em português seria tiktokeira?) norte-americana e liderar a lista dos mais vendidos da Amazon na categoria latino americanos e caribenhos. O livro: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. A gringa em questão é a professora Courtney Henning Novak, que publica vídeos recomendando traduções de obras das mais variadas literaturas do mundo. Depois que ela disse “achar” que o “Brás Cubas” é seu “novo livro preferido” e “talvez o melhor livro de todos”, superando “Orgulho e Preconceito”, da britânica Jane Austen, em seu ranking pessoal, e colocou a versão em inglês do livro do mulato no topo dos mais vendidos, choveram publicações em sites nacionais importantes dispostas a apresentar “Memórias Póstumas de Brás Cubas” aos brasileiros.
Ora, muito antes da chancela estrangeira, o livro mais famoso do fundador da Academia Brasileira de Letras e maior escritor da história do país devia ser conhecido tão de cor e salteado por todos nós que publicações assim não fariam o menor sentido. Mas, a verdade é que, sim, há uma enorme quantidade de brasileiros que ainda precisa que uma gringa nos informe que existe Machado de Assis. Outrora, o bruxo do Cosme Velho andou tão ignorado por nós mesmos que até apareceu branco numa propaganda da Caixa Econômica Federal.
Pois esse caso me lembrou a história de Tom Zé. Vocês lembram? O cantor e compositor já estava quase jogando a toalha, decidido a ir trabalhar no posto de gasolina da família em Irará, quando David Byrne (o tiktoker gringo da vez) avisou ao mundo do valor daquele gênio e, só por isso, o Brasil acreditou. Ou fingiu acreditar. Fato é que o lider dos Talking Heads salvou a carreira de Tom Zé com sua influência loura e novaiorquina. E nem isso nos preveniu de ignorar nossas riquezas até que outro gringo as louve.
Há até um livro sobre isso. Chama-se “Tenda dos Milagres”, de Jorge Amado. Certo que Jorge é um fenômeno de vendas e seus livros são bem conhecidos. Mas, creio que não custa nada recomendar que se leia ou releia este romance especificamente. E que se atente ao fato de que Pedro Archanjo só passa a ser considerado alguma coisa depois que o americano Prêmio Nobel vem aqui nos dizer, para espanto geral da nação, que ele é muita coisa. “Brasil, mostra sua cara”, clamou Cazuza. Pois eu peço, encarecidamente: Brasil, olhe- -se no espelho.
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