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Segunda-feira, 21 de abril de 2025

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Viagra e prótese inflável para quem precisa

Viagra e prótese inflável para quem precisa

Em meio ao paradoxo de ver o bolsonarismo silencioso diante dos seus quando são pegos protagonizando escândalos, o conceito de piada pronta foi atualizado pelas Forças Armadas

Viagra e prótese inflável para quem precisa

Foto: Reprodução

Por: Malu Fontes no dia 14 de abril de 2022 às 10:05

Os brasileiros entusiastas do fechamento do Supremo Tribunal Federal, os demonizadores da política e dos políticos tradicionais, os defensores dessa coisa vaga que chamam de moral e de bons costumes e os melancólicos da ditadura quase sempre associam a esse combo o elogio ao que consideram a disciplina, o rigor e a honestidade atribuídos aos militares. Gente que não tem a menor ideia do significado legal e institucional do Ato Institucional número 5 costuma citar o desejo de reedição das regras do documento como antídoto para as coisas mais disparatadas, que vão da vontade de reprimir relações amorosas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo à censura e crítica aos clipes e ao sucesso internacional de Anitta. 

Enquanto isso, nos últimos anos, os militares das Forças Armadas, e os das polícias militares também, embora em menor grau, por não usufruírem da mesma aura de elitismo experimentada pelas tropas do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, vêm se deslumbrando com o poder político conquistado num governo eleito sob regras do sistema democrático e enroscando-se em tudo o quanto é episódio de desonestidade, vulgaridade, corrupção e ilegalidade. São vastos e rumorosos os casos, incluindo até tráfico internacional de cocaína em aviões da Força Aérea Brasileira em missões diplomáticas levando o presidente da República. Ou já esqueceram o escândalo na Espanha, quando da apreensão de grande quantidade de droga durante um voo presidencial? 

Ao mesmo tempo em que parte das bancadas da Bíblia em todas as esferas do legislativo aplaudem a insustentável disciplina militar e condenam a sexualidade alheia e a midiática, um sujeito eleito como o terceiro vereador mais votado do Rio de Janeiro emerge do esgoto político em que se transformaram as casas legislativas do Rio de Janeiro e estreia nacionalmente um rumoroso caso de relações sexuais com adolescentes. Os adoradores de Jesus da goiabeira calam-se. O sujeito vem da Polícia Militar carioca, cuja fama e razões dela são impublicáveis, até porque revelá-las implica correr risco de vida. Ou ou certo é risco de morte? 

BROCHAS E PÊNIS INFLÁVEL 

Em meio ao paradoxo de ver o bolsonarismo silencioso diante dos seus quando são pegos protagonizando escândalos, o conceito de piada pronta foi atualizado pelas Forças Armadas. Depois de droga em avião da FAB, de toneladas de leite moça, agora o roteirista do rigor militar se perdeu na personagem e colocou na agenda do dia 50 mil comprimidos de Viagra, a marca comercial mais famosa para disfunção erétil, mais conhecida como impotência sexual. Não é normal comprar estimulante sexual para os quartéis. Não deveria ser. Mas tem mais: a compra foi superfaturada. O governo brasileiro pagou pelos comprimidos mais de 143% do que pagaria se comprasse o remédio na farmácia da esquina. 

Haja o que houver de absurdo entre os militares e os representantes cristãos de bíblia em punho, logo vêm explicações para empurrar os fatos para muitos degraus acima do minimamente aceitável. Os militares e o próprio presidente da República passaram o resto da semana rodando na web e nas redes vídeos explicando que o Viagra foi comprado pelos hospitais militares para tratar casos de hipertensão arterial pulmonar. Sim, um dos princípios ativos do medicamento pode ser prescrito para isso, mas não na dosagem dos lotes de medicamentos que foram comprados. Além disso, há, no laboratório que produz o remédio, um outro produto específico para hipertensão pulmonar, à base desse princípio. 

A versão da hipertensão pulmonar só descola mais a realidade dos fatos, mas quem se importa se, na sequência, surge outro fato ainda mais nonsense? O Exército brasileiro também comprou, por conta do estado, 60 próteses penianas infláveis, a um custo total de R$ 3,5 milhões. Até a produção desse texto, não havia circulado nenhuma explicação oficial para a despesa. Na falta de explicação convincente, fiquemos com a tese defendida nos memes. Os militares brasileiros são brochas.