Inscreva-se no Programa de bolsa e treinamento para estagiários em comunicação na Metropole>>

Domingo, 27 de abril de 2025

Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp

Home

/

Notícias

/

Rádio Metropole

/

Lilia Schwarcz: Mérito é uma outra versão do mito da democracia racial

Rádio Metropole

Lilia Schwarcz: Mérito é uma outra versão do mito da democracia racial

Para a historiadora, o sequestro de direitos das minorias faz com que o Brasil perca mentes e possibilidades

Lilia Schwarcz: Mérito é uma outra versão do mito da democracia racial

Foto: Reprodução/Youtube

Por: Metro1 no dia 16 de agosto de 2024 às 11:09

O conceito da meritocracia estabelece uma ligação direta entre mérito e poder, que é constantemente contestada sob o olhar da desigualdade social e racial. Imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz é uma das intelectuais que rebate a ideia. Em entrevista à Rádio Metropole nesta sexta-feira (16), ela afirmou que o mérito é mais uma versão do “mito da democracia racial”, corrente de pensamento que nega a existência do racismo no Brasil.

“Sabemos que as pessoas negras, por exemplo, não têm os mesmos direitos. Durante séculos foram proibidas de ter educação. E nós sabemos que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão mercantil e nunca trabalhamos no sentido real da inclusão social. Então eu penso que mérito é uma outra versão do mito da democracia racial. Não que não exista mérito, mas as pessoas não têm acesso ao mérito da mesma maneira”, afirmou.

Lilia rebateu ainda as críticas aos movimentos identitários. Segundo a historiadora, no geral, essas narrativas partem de um falso pressuposto de que as sociedades são universais, que os direitos são iguais.

“Mas sabemos que essa é uma falácia da nossa democracia. A democracia é o melhor regime, enquanto não for inventado um outro. A democracia criada na Grécia já começou desigual. Porque não votavam estrangeiros, mulheres, negros. Em um país tão desigual como o Brasil, o sexto maior país desigual, é muito difícil falar em direitos iguais, em direitos igualados”, afirmou a historiadora, destacando que movimentos de identidade surgiram justamente pela busca por justiça e igualdade de direitos.

A imortal da ABL pontuou ainda que acredita em políticas de afirmação racial não só porque é preciso desigualar para igualar, mas principalmente porque 55,6% da população brasileira não tem acesso às posições de protagonismo, como deveriam ter. Com isso, “o Brasil está perdendo mentes e possibilidades”. “Agora, identitarismo é uma corruptela de políticas de identidade. Identitarismo é como se fosse uma doença. Tudo extremado, tudo radical é ruim”, ponderou.

Confira a entrevista: