Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025

Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp

Home

/

Notícias

/

Jornal da Metropole

/

Rei dos factóides: Jornal Metropole relembra trajetória política de Jânio Quadros

Jornal Metropole

Rei dos factóides: Jornal Metropole relembra trajetória política de Jânio Quadros

Figura carismática e marcante da história política brasileira, Jânio Quadros se tornou e deixou de ser presidente da República de forma inusitada

Rei dos factóides: Jornal Metropole relembra trajetória política de Jânio Quadros

Foto: Arquivo Nacional

Por: Nardele Gomes no dia 31 de agosto de 2023 às 17:06

Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 31 de agosto de 2023

Era uma figura inusitada naquele ambiente. Não era rico, não vinha de família com tradição na política, não tinha padrinhos, não tinha jornal, não pertencia a nenhum grande grupo financeiro, não servia aos Estados Unidos, nem à Rússia, não era bonito, nem simpático. Mas apenas 13 anos depois de entrar na política e se eleger vereador por São Paulo, Jânio Quadros se tornou presidente do Brasil. E do mesmo jeito inusitado que entrou, saiu. Passou 7 meses no mais alto posto da nação, eleito numa votação histórica, e renunciou, em agosto de 61. Um personagem rico, cheio de contradições, de extremos, de atitudes inesperadas e rompantes definitivos.

Jânio Quadros nasceu no Mato Grosso do Sul, mas foi criado em São Paulo. Aos 30 anos assumiu o mandato de vereador e logo depois foi o deputado estadual mais votado. Em seguida foi eleito prefeito de São Paulo, e deixou a prefeitura para se candidatar a governador do estado. Ganhou, e completou um mandato pela primeira vez. Ao sair, decidiu que seria presidente. E acertou em cheio no que seduziria os brasileiros: uma vassoura. 
Com a proposta de varrer a corrupção, Jânio Quadros saiu na frente. E na maior votação para presidente da história do Brasil até então, Jânio Quadros elegeu-se, com João Goulart como vice. Foi o primeiro a tomar posse em Brasília.

Plano fracassado
Enquanto o Brasil tinha sérios problemas a serem resolvidos, Quadros se ocupava em proibir o uso de maiô em concursos de miss, proibir rinhas de galo e corridas de cavalo em dias de semana.  Mas no curto governo de Jânio, nenhuma medida foi mais polêmica do que condecorar, com a Ordem do Cruzeiro do Sul, o guerrilheiro Che Guevara, um dos comandantes da Revolução Cubana. 

Antes de condecorar Che Guevara, Jânio restabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética, iniciou um intercâmbio comercial com a China e assumiu posição contra a expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos. Isso não significava que o Brasil estaria se aliando ao bloco socialista. Quadros queria apenas firmar sua independência na política internacional. Mas os udenistas e os militares estavam inquietos. 

As pressões aumentaram, principalmente no Congresso Nacional. E ninguém esperava, mas, no dia 25 de agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou à presidência da República, alegando forças terríveis que o levaram àquilo. Hoje se sabe que a renúncia de Jânio foi uma estratégia para continuar no governo, mas com mais poderes. Jânio queria manifestações populares, multidões pedindo que ele ficasse. Nada disso aconteceu. Anos mais tarde, numa entrevista à televisão, Jânio reconheceu que a atitude que o levou à renúncia foi tomada com base no seu principal defeito. “Eu sou muito impulsivo, muito temperamental”, disse. “Com muita frequência me arrependo do que faço”. 

Jânio Quadros morreu em 16 de fevereiro de 1992. Ficou marcado como um homem meio exótico, roupas amarrotadas, barba por fazer, os ombros brilhando de caspa. Tomava injeções e simulava desmaios em cima do palanque para dramatizar o discurso. Ao cumprimentar os eleitores, fazia questão de mostrar os bolsos empanturrados de sanduíches de mortadela e pão com banana. Tudo para passar a imagem de candidato do povo. Sem dúvida foi uma das figuras mais carismáticas e marcantes da história política brasileira.