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Dorival Caymmi: 110 anos de um homem apaixonado pela Bahia

Cultura

Dorival Caymmi: 110 anos de um homem apaixonado pela Bahia

As canções do artista se espalharam pelo país e levaram a Bahia aos olhos do mundo

Dorival Caymmi: 110 anos de um homem apaixonado pela Bahia

Foto: Reprodução/Acervo Nacional

Por: Gláucia Campos no dia 30 de abril de 2024 às 09:46

Há exatos 110 anos nascia o cantor e compositor Dorival Caymmi. O músico carrega a alcunha de ter conseguido transformar em música duas de suas grandes paixões: sua terra natal, a Bahia, e o mar. As duas ocupavam um lugar tão grande no coração do baiano que a maior parte de suas canções fazem referência aos dois temas, como na obra “Minha jangada vai sair pro mar”.

A carreira de Caymmi começou em 1938, na rádio Tupi, foi a primeira chance que ele conseguiu de mostrar suas composições e sua voz. O baiano “caiu” no gosto do público apenas um ano após sua estreia com o estrondoso sucesso da música “O que é que a baiana tem?”. A canção fez parte do filme Banana da Terra (1939), estrelado pela cantora e atriz Carmem Miranda, com quem Dorival também gravou um disco. Em entrevistas, o artista costumava lembrar que o requebrado de mãos e antebraços que caracteriza a performance da artista foi sugestão sua. 

As canções do baiano se espalharam pelo país todo e foram gravadas e regravadas por diversos nomes da música brasileira, como Gal Costa, Os Novos Baianos, João Gilberto entre outros. As letras se tornaram parte do imaginário brasileiro. É difícil encontrar quem nunca tenha ouvido a clássica “Samba da minha terra”, composta com inspiração no samba de roda da Bahia. Para a neta do cantor, a também cantora Alice Caymmi, o gosto pelo popular – em especial, da Bahia –, era muito característico de Dorival.

“Ele curtia muito o que estava acontecendo no momento. Havia ali com ele um respeito muito grande pelo público e pelo que o público acolhe. Eu sinto que ele não gostava dessa coisa de que existisse uma ‘música superior’ e o gosto do povo estivesse abaixo disso”, disse em entrevista ao programa Revele, na última sexta-feira (26), quando ela lembrou uma entrevista em que foi perguntada o que seu avô escutava em casa e respondeu: Mamonas Assassinas. Nesta quarta-feira (1º), Alice vai homenagear o artista falando sobre ele em uma mesa na Bienal do Livro da Bahia.

O boa praça

O longa sobre a vida do artista, intitulado Dorival Caymmi - Um Homem de Afetos, estreou nos cinemas neste mês de abril. O documentário mistura uma entrevista inédita realizada com o baiano em 1998 com relatos íntimos dos familiares. A diretora do filme, Daniela Broitman, contou que, durante os anos de pesquisa que dedicou à produção, a capacidade do artista baiano de construir relações com todas as pessoas por onde passava foi uma das coisas mais marcantes que ela observou.

“O que eu acho incrível é que ele se dava muito bem com pessoas que conviviam pertinho dele, com quem ele estabelecia muita conversa, pessoas da terra dele, pescadores, até a elite. Quando ele chegou no Rio [de Janeiro], ele logo entrou para a elite, então ele tinha amigos de muita visibilidade e fama. Essa diplomacia que ele tinha, esse carisma, esse charme, que encantava. Onde passava ele deixava esse brilho, esse rastro de afeto”, disse em entrevista a Rádio Metropole, no início de abril.

O apego de Caymmi à Bahia, as raízes da cultura africana, o mar e o bairro de Itapuã produziram títulos famosos como “Saudade de Itapuã”, “O Mar”, “Suíte de Pescadores” e “A Lenda do Abaeté”. O compositor, que faleceu em 2008, deu nome à principal avenida do bairro, além da praça central e ainda foi homenageado com uma estátua.

Em comemoração aos seus 110 anos, diversos artistas se uniram para publicar, em seus perfis no Instagram, vídeos interpretando canções do autor de "O Que é Que a Baiana Tem?", com a hashtag #dorivalcaymmi110 — uma forma de manter viva a obra e o legado caymmianos no ambiente digital. O projeto foi idealizado pelo poeta e colunista do Metro1, James Martins, que em artigo recente no Jornal Metropole criticou a ausência de homenagens ao baiano neste aniversário de 110 anos.