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'O policial já foi com a arma na cabeça dele', diz mãe de jovem confundido por reconhecimento facial

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'O policial já foi com a arma na cabeça dele', diz mãe de jovem confundido por reconhecimento facial

Sistema de reconhecimento facial na Bahia possui alguns casos de falso-positivos

'O policial já foi com a arma na cabeça dele', diz mãe de jovem confundido por reconhecimento facial

Foto: Mateus Pereira/GOVBA

Por: Luciana Freire no dia 05 de janeiro de 2020 às 13:00

O sistema de reconhecimento facial foi implantado há pouco mais de um ano pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). Com o auxílio da ferramenta, já foi possível prender mais de 100 pessoas em Salvador e Feira de Santana. Mas desde que foi implantado, houve casos de falsos-positivos, um desses casos aconteceu em setembro. Confundido com um assaltante, um rapaz de 25 anos com necessidades especiais foi abordado por policiais e, segundo a mãe do jovem, 'o policial já foi com a arma na cabeça dele'.

A mãe do jovem pediu para não ser identificada. Veja seu depoimento na íntegra:

"Aconteceu no mês de setembro. Hoje, ele está tranquilo. Ele é especial, tem uma deficiência mental, mas é assistido por médicos especialistas, ele tem acompanhamento psiquiátrico.

No momento da abordagem, ele ficou parado, não esboçou reação nenhuma, nem a que os policiais exigiam que ele tivesse - colocar as mãos na cabeça. Ele ficou parado só me olhando. Um policial ficou com a arma na cabeça dele e ele só me olhava. Eu, como fiquei nervosa, também não tive reação. Depois de uns minutos, foi que eu percebi que eu tinha que entender o que estava acontecendo. E, pra eu entender, eu precisava que ele colocasse a mão na cabeça.

A gente estava indo para uma consulta médica no Santa Izabel. Eu entrei numa padaria para tomar café porque era muito cedo. Seguiram a gente do metrô. A padaria tava muito cheia na hora, era horário de pico, eu tinha pedido um lanche pra ele, não deu tempo nem de a gente pegar o lanche, já foi com arma na cebeça dele, outra nas costas. Em nenhum momento deram um bom dia, solicitaram a documentação para constatar se era a pesoa.

Eu não me referi ao sistema de reconhecimento, não condenei. Eu me referi aos PMS, à forma como eles abordaram. Minha revolta foi essa na época do acontecido, porque assim como não aconteceu nada, poderia ter acontecido tudo por conta de uma abordagem displicente, até porque tinham vários, eram de oito a dez PMs.

Nada justifica dizer que os policias são novos e despreparados. Nada disso foi levado em consideração. Eu achei horrível a forma como tudo aconteceu. E todos os dias eu agradeço mil vezes por Deus ter me dado controle e ter dado a ele essa tranquilidade. Isso ajudou muito.

Lá mesmo, no ato da abordagem, eu me controlei e depois eu comecei a perguntar, falei que ele era especial: 'Eu sou acompanhante dele, ele tem 25 anos, não moro aqui, moro em Lauro de Freitas'. E foi aí que o policial do lado de fora entrou com uma imagem no celular que eu não vi, que eu tive a atitude de pegar a identidade do meu filho no bolso dele, apresentei e perguntei o que é que tava acontecendo. Aí foi que ele constatou que meu filho não era quem ele estava procurando, pediu desculpas ali no momento, falaram que tavam procurando duas pessoas por assalto e que meu filho foi reconhecido nas câmeras.

Eu disse: 'Como assim reconhecido? Foi reconhecido ou foi confundido, o que é muito diferente'.

Eu parti para minha consulta, já tava marcado mesmo, eles não me levaram para a delegacia nem nada. Mas, eu levei adiante. Fui pra casa, no outro dia eu fui na Polícia Civil, depois me mandaram nos Alflitos (quartel), fiz a ocorrência e mais uma vez me pediram milhões de desculpas, mas nada tira o constrangimento que a gente viveu e passou.

E ficou marcado, mas como meu filho já tem acompanhamento, eu sempre converso com ele que isso é comum, que ele não se exalte, que ele não corra, até porque ele não deve nada para a sociedade.

Dois meses depois, aconteceu com o filho de uma amiga minha, e eles mataram o menino de 15 anos. Não foi reconhecimento facial, mas foi uma abordagem da polícia, chegaram já atirando. Ele correu com medo, os colegas conseguiram se esconder, mas ele não e mataram ele com vários tiros na nuca. Minha amiga hoje chora, acabou a vida dela porque ele era filho único, enquanto eu dou graças a Deus por não ter acontecido nada com meu filho".