“Esse achado tem o potencial de abalar as bases coloniais e racistas dessa cidade. Porque a gente sabe que essas práticas coloniais apagam memórias e vestígios de violências e assim se perpetuam. O cemitério trata desse direito à memória, direito à verdade e ao luto. Então eu acho que o impacto vai ser enorme porque se trata de um apagamento proposital”, explicou a pesquisadora Silvana Olivieri.
Cidade
Pesquisa aponta possível localização de antigo cemitério de escravizados em Salvador
A descoberta foi feita através da análise de mapas históricos e imagens de satélite
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Foto: Reprodução/Google Maps
Uma pesquisa da arquiteta e urbanista Silvana Olivieri, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), identificou indícios de que um cemitério de escravizados pode estar localizado onde hoje funciona o estacionamento da Pupileira, no bairro de Nazaré, em Salvador. A área pertence à Santa Casa de Misericórdia da Bahia.
A descoberta foi feita através da análise de mapas históricos e imagens de satélite, permitindo à pesquisadora apontar um local exato que pode ter servido como cemitério. Segundo Olivieri, o espaço teria sido criado no século 18 e funcionado por cerca de 150 anos, sendo fechado em 1844.
Além de escravizados, o local também teria sido utilizado para enterrar pessoas pobres, indigentes, suicidas e encarcerados, incluindo possíveis participantes da Revolta dos Búzios, Revolução Pernambucana e Revolta dos Malês.
Inicialmente administrado pela Câmara Municipal e, depois, pela Santa Casa de Misericórdia, o cemitério desapareceu ao longo do tempo da paisagem urbana de Salvador. Para a pesquisadora, escavações na área podem revelar vestígios de um capítulo da história apagado propositalmente.
O objetivo da reunião foi discutir um termo de cooperação que viabilize as escavações no estacionamento da Pupileira. A Santa Casa tem até 24 de fevereiro para decidir se assinará o termo.
Para a promotora de Justiça Cristina Seixas, a possível descoberta do cemitério tem grande importância para a história de Salvador e da Bahia, podendo confirmar a existência de um dos primeiros cemitérios públicos da cidade.
“Trata-se de um momento em que vamos resgatar a imagem e memória desse cemitério que recebeu restos mortais de muitas pessoas negras que não eram, naquela época, valorizadas, além da perspectiva dos restos mortais de pessoas que participaram da Revolta dos Malês e de outras revoltas pela liberdade dos escravos no Brasil”, destacou a promotora Cristina Seixas.
Se confirmada, a localização do cemitério representará um importante resgate da memória e da história da população negra em Salvador.
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