Cidade
Neojiba recebe jovens musicistas ucranianas que fugiram da guerra em seu país
Orquestra juvenil acolheu três musicistas em ação de ajuda humanitária e troca musical; outras sete ainda são esperadas
Foto: Elói Corrêa / GovBA
Cerca de dez mil quilômetros separam a Ucrânia da Bahia, onde estão as musicistas ucranianas Maria Sorokina, 16 anos, Vladslava Danyliuk, 20, e Olesia Matei, 27. As jovens tiveram suas trajetórias de vida interrompidas pela guerra com a Rússia. Longe da família e dos amigos, a carreira, os sonhos, o futuro, antes cheio de expectativa, tudo hoje é incerto. Neste momento tão difícil, veio dos Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba) a ajuda humanitária necessária para que elas possam se reorganizar pessoal, emocional e profissionalmente.
As musicistas receberam vistos de acesso, recursos para moradia, transporte, refeição, hospedagem, e ajuda social e psicológica, recursos disponibilizados na ação de ajuda humanitária . A expectativa é abrigar 10 artistas em Salvador por pelo menos seis meses. As inscrições permanecem abertas pelo e-mail neojiba.help.ukraine@gmail.com, com o pedido de envio de currículo, endereço, links de registros de apresentações musicais e informações sobre o aeroporto mais próximo.
Trajetórias interrompidas - Olesia é cantora lírica solista do Teatro Nacional de Opereta de Kyiv. Na sede do Neojiba, no Parque do Queimado, o celular da jovem ucraniana soa um alarme: mais um bombardeio em sua cidade. Ela para o que está fazendo, confere algumas informações e comenta: “já estou acostumada, não é novo isso”. Ela destaca a incerteza. “Eu tinha muitos planos, eu tinha carreira, mas a guerra acabou com tudo. Por enquanto, eu estou aqui e continuo a fazer o que eu gosto. Eu agradeço por essa oportunidade”, conta a menina que já está dando aulas para os jovens do Neojiba. Ela também elogia Salvador. “Estou gostando da cidade, é grande, é diversa, é intensa, é muito interessante”.
O Neojiba, para Olesia, é o símbolo do acolhimento do povo brasileiro e do povo baiano. “Nós vimos isso em primeiro lugar no próprio projeto Neojiba. Eu tinha vários convites para diversos países da Europa, mas o Brasil é uma cultura totalmente nova. E com certeza aqui tem muitas coisas que não tem na Europa, e que eu posso aprender aqui e depois levar para a Ucrânia”.
Vladslava, ou Vlada, também cantora lírica, fala da sua saída da Ucrânia. “Em 24 de fevereiro começou a guerra, eu arrumei minhas coisas e saí de Odessa, onde estudava. Quando vi esse anúncio sobre o programa do Neojiba respondi rapidamente. Eu quis tentar porque era uma possibilidade de praticar música, algo que se ficasse na Ucrânia não conseguiria fazer”.
Ela ressalta que a preocupação com a guerra é grande, mas existe um alento. “Aqui é tudo muito lindo, em primeiro lugar é uma natureza, eu gosto de todos os bichinhos, das plantas, das frutas, mas até agora não vi os micos”, sorri. Vlada destaca o aprendizado no Neojiba. “As técnicas de ensino, já estou captando aos poucos, para aplicar depois na Ucrânia. E, claro, eu espero conhecer muito a cultura brasileira, eu espero ter essa linda experiência”.
Mais jovem entre as três e a última a chegar em Salvador no início de abril, Maria garante que foi muito bem acolhida. “Estou muito feliz por ter essa oportunidade. Eu escutei as gravações da Orquestra de Ricardo Castro e foi a única coisa da música da Bahia que eu escutei até então”. Ela tem expectativa quanto às oportunidades que virão. “Eu sempre sonhei em tocar em orquestra, e estou gostando muito dessa orquestra aqui. E hoje, o maestro Ricardo Castro falou também que vou ensinar, então estou muito feliz assim, nessa expectativa de poder me realizar em todos os sentidos”.
Acolhimento - O maestro Ricardo Castro, idealizador do programa humanitário, explica que a iniciativa surgiu do fato do Neojiba ser uma instituição internacional. “A gente já tem uma ligação com os outros países, eu estava na Europa no momento em que a guerra foi declarada. E, obviamente, o programa surgiu de uma preocupação nossa em acolher, em utilizar nossa capacidade de integração, trazendo esses jovens da Ucrânia para cá. E a gente acredita realmente que a música tem esse potencial único de integrar e promover a paz”.
Sobre as artistas ucranianas, Ricardo Castro afirma que elas estão se integrando. “Apesar do pouco tempo, já fazem parte das nossas atividades, e a gente espera a vinda de outros jovens músicos nos próximos dias. Isso é uma ação muito natural da nossa parte, o Neojiba já é acolhedor para o próprio povo baiano. E tínhamos essa capacidade de colaborar, então este é um momento que a gente oferece de descanso, um momento de paz que será muito importante para essas jovens e os próximos que virão, inclusive para levar a mensagem do Neojiba de volta para a Europa, quando voltarem para a casa deles”.
O maestro explica que o Neojiba ofereceu uma residência que faz parte das instalações da instituição, doadas por particulares. “E essa residência tem bastante espaço para acolher o grupo. Atualmente, as artistas participam das atividades do Neojiba de manhã e de tarde, seja dando aulas, ou participando dos ensaios, tocando nas orquestras, e vão participar de concertos, eu espero que o público venha aplaudi-las nos teatros de Salvador, em breve elas já estarão se apresentando”. Castro encerra informando que haverá eventos que incluem a participação das ucranianas. “O mais importante será no 1º de junho no Teatro Castro Alves, um grande concerto sinfônico com a presença da Olesia Matei".
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