Bet usa nomes de empresas de concessões públicas para patrocinar anúncio em pesquisas de plataformas digitais

O desafio da regulamentação das casas de apostas esportivas, as famosas bets, passam também por discussões sobre a publicidade dessas empresas. No ano passado, a Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda publicou uma portaria que determinava diretrizes para essas empresas, inclusive nas ações de marketing. Ainda assim, são frequentemente encontrados casos controversos, como o observado pela reportagem nesta sexta-feira (17). 

Uma simples busca por uma segunda via de conta de energia elétrica, por exemplo, pode levar clientes da Neoenergia Coelba a um site de apostas online. Uma apuração realizada pelo Metro1 revelou que, ao pesquisar a sigla da companhia na aba de “Notícias” do Google, o resultado exibe mais de três páginas repletas de anúncios direcionando para o site BET5U.com.

Todos os links conduzem à mesma plataforma, que não está entre as 139 marcas autorizadas pelo Ministério da Fazenda a operar no Brasil. A BET5U.com é registrada sob o nome da empresa BET5U N.V. e opera com uma licença emitida pelo governo de Curaçao, território considerado um paraíso fiscal e que concentra diversas empresas acusadas de irregularidades.

Em resposta ao Metro1, a Neoenergia Coelba afirmou que sua equipe jurídica adotará medidas legais contra o uso indevido da marca. A concessionária informou que notificará o Google para a remoção dos links no buscador “o quanto antes”.

A principal suspeita é que a bet em questão tenha feito campanhas de publicidade na plataforma Google Ads, vinculando o termo Coelba. Nessa plataforma, é possível escolher termos de pesquisa, pagar por isso e, de acordo com o valor, o link da empresa patrocinadora será rankeado no resultado das pesquisas feitas com aquele termo. Outros termos também tiveram como resultado links da casa de apostas, é o exemplo de ViaBahia, empresa que administra as BRs 116 e 324 na Bahia.

Mercado de apostas no Brasil

O mercado de apostas esportivas online está em expansão no Brasil. Segundo a Secretaria de Prêmios e Apostas, 66 empresas têm autorização definitiva ou temporária para operar no país, o que representa 139 marcas ativas. Para obter a licença, cada empresa paga R$ 30 milhões em outorga, além de tributos sobre a receita bruta. A regulamentação exige medidas para proteger os consumidores e prevenir crimes financeiros, como lavagem de dinheiro. Apesar disso, o setor ainda enfrenta problemas relacionados à operação de sites ilegais, como o BET5U.com.

Economia afetada

O mercado de apostas também gera preocupações econômicas. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo deixou de faturar R$ 103 bilhões em 2024 devido à migração de recursos de famílias para plataformas de apostas virtuais. O estudo revelou que, em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família destinaram R$ 3 bilhões às casas de apostas online, evidenciando o impacto social e econômico do setor.