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Medicina não pode seguir correntes ideológicas, diz presidente da Associação Médica do Brasil

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Medicina não pode seguir correntes ideológicas, diz presidente da Associação Médica do Brasil

Para César Eduardo Fernandes, indicação para tratamento precoce não encontra base científica

Medicina não pode seguir correntes ideológicas, diz presidente da Associação Médica do Brasil

Foto: Metropress

Por: Matheus Simoni no dia 03 de fevereiro de 2021 às 10:23

O presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Dr. César Eduardo Fernandes, lamentou a defesa por tratamento precoce para a Covid-19, medida que não encontra base científica. Em entrevista a Mário Kertész na manhã de hoje (3) na Rádio Metrópole, o que ocorreu no início da pandemia foi uma busca desenfreada para encontrar possíveis alternativas para curar os pacientes. No entanto, com o avanço dos estudos, a comunidade científica viu a necessidade de se posicionar contra estes medicamentos.

"Buscava-se alternativas terapêuticas e havia alguma base biológica para que você pregasse essas medicações, a exemplo da cloroquina, da hidroxicloroquina e ivermectina na tentativa de atenuar a evolução da doença para que ela não fosse aos casos mais graves. Ocorre que a doença evolui para casos graves num percentual muito baixo. A mortalidade é baixa em termos percentuais. Em termos populacionais, extremamente elevada a tragédia humana", declarou o médico. 

"À luz dos conhecimentos atuais, esse tratamento não se sustenta ou procede, não faz sentido eficaz. Mais do que isso, esses tratamentos possuem efeitos colaterais, algumas vezes graves. Além de não ser eficaz, não é seguro, ao contrário da vacina, que é eficaz e segura", acrescentou. 

Ainda de acordo com o presidente da AMB, ainda que os médicos tenham autonomia para indicar tratamentos aos pacientes, é necessário que a prática esteja amparada em resultados científicos. Ele afirmou que é fundamental respeitar o Conselho Federal de Medicina, órgão que rege as normas e diretrizes da atuação dos médicos.

"O CFM não existe para nos proteger, é para proteger a população. Infrações éticas disciplinares são avaliadas pelo CFM. Respeito o conselho, respeito seus dirigentes. Dito isso, neste contexto de respeito, eu quero dizer que posso pensar diferente do conselho. A questão da autonomia tem alguns limites. Claro que o médico tem a autonomia de usar as melhores práticas clínicas em benefício do seu paciente. Mas a autonomia pressupõe de que eu devo usar essas práticas que são defensáveis do ponto de vista científico", afirmou  dr. César Eduardo Fernandes. 

Questionado por MK, o presidente da associação considerou "um grande equívoco" a estratégia de envolver um debate político na medicina. "Estamos no Brasil partidarizados como se a medicina pudesse seguir correntes ideológicas. A Medicina tem que ficar à margem e se basear no conhecimento científico, única e exclusivamente. As autoridades públicas deveriam buscar o saber onde eles se encontram. O saber da Medicina se encontra dentro da academia, nas boas faculdades de medicina. Hoje temos faculdades que  é possível até que tenha dobrado ou triplicado o número de escolas médicas. É uma irresponsabilidade de governos anteriores com a ideia de que, com o aumento no número de médicos, melhoraria a assistência à população. Daí vem o Mais Médicos, mais faculdades e hoje se tem uma porção de médicos se formando com condições insuficientes para o exercício da população", citou.