Médico relaciona estratégia comercial a uso abusivo de remédio para dormir: "a indústria farmacêutica é poderosa"

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou recentemente o aumento do controle para o medicamento Zolpidem, usado no tratamento da insônia. Agora, qualquer produto contendo a substância deve ser prescrito por meio de Notificação de Receita B (azul), isso porque o medicamento faz parte da lista de substâncias psicotrópicas da norma de substâncias controladas no país. Em entrevista à Rádio Metropole, o médico do sono Francisco Hora explicou os efeitos do remédio e apontou o investimento da indústria farmacêutica em estratégias comerciais como fatores que levaram ao uso abusivo e indiscriminado.

Segundo Hora, o Zolpidem surgiu como uma alternativa a medicamentos conhecidos como tarja preta (diazepam, clonazepam, Lexotan e outros), que induzem o sono, mas trazem dependência e tolerância (ou seja, com o tempo, exigem que as doses sejam aumentadas para obter o mesmo resultado. “O Zolpidem tem uma ação diferenciada. Mas nada se resolve só com remédio. Apostou-se em estratégia comercial e como hoje, eu diria, a indústria farmacêutica é mais poderosa que a do petróleo, o Zolpidem entrou como uma novidade, vendeu muito. Só que ele tem efeitos colaterais que eram previsíveis”, alertou o médico.

Entre esses efeitos, estão o estímulo ao sonambulismo, a falar dormindo e a outras atividades mentais durante o sono naqueles que já têm essa predisposição. Além disso, o médico citou casos de amnésia - a pessoa pode não ser capaz de lembrar o que aconteceu durante a noite, após consumir o medicamento. Francisco Hora, no entanto, esclarece que se bem indicado e acompanhado, o Zolpidem trará resultados positivos, o problema tem sido o uso abusivo e indiscriminado.

“Se bem indicado, vai funcionar. Se mal indicado, vai ser um desastre. A Anvisa, tendo em vista a facilidade com que ele [o medicamento] estava sendo usado, isso, claro, estratégia comercial levou a isso, fez o seguinte: criou normas, e agora ele vai ter que ter a receita, aquela receita tradicional, para você diminuir o consumo abusivo de medicamentos”, esclareceu Francisco Hora. De acordo com ele, tudo hoje conspira para que as pessoas não durmam bem. 

"A pressa, imediatismo, ansiedade, falta de solidariedade, todo mundo no seu celular [...] na hora de dormir isso é cobrado, sua cabeça não para de pensar. E aí entra o velho remédio, mas remédio não é solução para tudo", concluiu.

Confira a entrevista na íntegra: