Bob Fernandes: O mesmo grupo que derrubou Dilma pela pedalada agora quer manter a desoneração

O Senado apresentou, na última sexta-feira (26), um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do ministro Cristiano Zanin, que, atendendo ao governo federal, suspendeu a desoneração da folha de empresas e prefeituras. O jornalista Bob Fernandes comentou o assunto, no programa Três Pontos desta quinta-feira (2), e apontou que o grupo que agora pede a desoneração é “basicamente o mesmo” que pediu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff por pedaladas fiscais.

“Dilma caiu por conta de uma desoneração que ela fez ao longo de dois ou três anos, e agora está se discutindo isso em relação à desoneração de prefeitos e governadores”, comparou o jornalista, lembrando um episódio em que esteve com a ex-presidente, cerca de um mês depois de sua saída da presidência, e ela revelou que essas desonerações foram os maiores erros que cometeu. 

“Agora basicamente o mesmo grupo que derrubou Dilma quer manter a desoneração. Inicialmente para 17 setores, inclusive a imprensa”, acrescentou. 

Zanin suspendeu alguns itens do texto da desoneração, alegando que ela atropela a Constituição ao não levar em conta o impacto financeiro que pode trazer. 

Bob Fernandes citou ainda uma entrevista concedida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à coluna de Mônica Bergamo, no jornal Folha de São Paulo, onde ele lembrou que responsabilidade fiscal é dever também do Congresso e não só do Executivo. 

“Ele disse uma coisa que eu achei bastante precisa para entender o que se trata: há não muito tempo criar despesas e renunciar a receitas eram atos exclusivos do poder Executivo. O STF disse que o parlamento tem também o direito de fazer o mesmo. Mas qual é o desequilíbrio nisso? É que o Executivo tem que respeitar a lei de responsabilidade fiscal e o Parlamento não. Virou um parlamentarismo que se der errado não dissolve o Parlamento, dissolve a Presidência”, disse o jornalista citando a resposta de Haddad. 

O resultado disso, segundo Bob, é agora um Congresso que segue “torrando emendas parlamentares”, colocando “pautas-bombas” e exercendo um poder que obviamente é do Executivo, enquanto o governo se vê obrigado a cortar gastos e ficar engessado. Para o jornalista, essa briga pela desoneração de governos e prefeituras faz parte de um jogo político em um ano de eleição.

 "Só para ter uma ideia do quadro do que foi essa desoneração da Dilma, o custo foi a queda dela,  a tal da pedalada, que dois dias depois o Congresso mudou a lei e passou a não valer mais. A primeira desoneração, lei 12.546 de 2011, desonerava quatro setores, call center, tecnologia da informação, confecções e calçados. Em 2012, ano seguinte, a desoneração saltou para 12 setores. Em 2014, já eram 56 setores desonerados, custo de R$ 25 bilhões ao ano. No total, deu R$ 40 bilhões. Custou o buraco que ela tinha depois, a tal transferência que se chamou de pedalada. Custou o mandato. O que querem agora? Desonerar prefeituras e governos todos? E quem vai pagar? É essa a pergunta", finalizou.

Confira o programa na íntegra: