Política
Em grupo de Whatsapp, empresários bolsonaristas defendem golpe de Estado
Em um grupo no Whatsapp formado por grandes empresários do país, a defesa por um golpe de Estado é feita de forma explícita pelos integrantes
Foto: Reprodução
Com a aproximação das eleições, empresários apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) passaram a defender abertamente um golpe de Estado caso o ex-presidente Lula derrote o Chefe de Estado nas urnas. De acordo com apuração do portal Metrópoles, um grupo no Whatsapp intitulado Empresários & Política, criado no ano passado, tem mostrado uma escalada de radicalismo entre os membros. A possibilidade de ruptura democrática é o que tem dado o tom nas interações no grupo.
A defesa pelo golpe é feita de forma explícita pelos integrantes. Ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a pessoas ou instituições que se opõem a Bolsonaro também fazem parte.
Entre os integrantes estão grandes empresários de diversas partes do país, como Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii.
No último dia 31 de julho, o proprietário do shopping Barra World teria enviado uma mensagem que acabou estimulando o posicionamento de vários outros integrantes. A mensagem do empresário dizia que ele preferia uma ruptura à volta do PT. Koury chegou a defender ainda que, se o Brasil voltasse a ser uma ditadura, investimentos externos não deixariam de chegar ao país.
“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, publicou.
No mesmo dia, o proprietário da W3 Engenharia se apresentou no grupo e disse ser eleitor de Bolsonaro desde o segundo mandato do ex-capitão na Câmara dos Deputados.
“Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, publicou, se referindo ao ato que estava previsto para o Sete de Setembro, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro.
O dono das lojas Mormaii também se posicionou. Marco Aurélio Raymundo é um dos empresários com visões mais extremistas no grupo. Ele defende que o Brasil está em guerra contra os adversários de Bolsonaro.
“O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”, escreveu o dono da rede de lojas Mormaii.
Veja outras mensagens publicadas no grupo:
“Golpe foi soltar o presidiário!!!
Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição!
Golpe é a velha mídia só falar merda”, escreveu Marco Aurélio Raymundo, dono da rede de lojas Mormaii, em 31 de julho.
“Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem ‘na boa’. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo… masssss [sic] quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”, escreveu o dono da Mormaii em 17 de maio.
“O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo.
[Em] 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”, escreveu, em 31 de julho, o empresário André Tissot, do Grupo Sierra, empresa gaúcha especializada na venda de móveis de luxo.
O que dizem os empresários
Procurado pelo portal, José Koury afirmou que não defende um golpe, mas em seguida confirmou que “talvez preferiria” a ruptura a uma volta do PT. Já o dono da Mormaii disse que defendeu a importância simbólica de um desfile militar para mostrar de que lado as Forças Armadas estão. O empresário disse ainda não apoiará qualquer “ato ilegítimo, ilegal ou violento”.
Meyer Nigri, da Tecnisa, disse que pode “ter repassado algum WhatsApp” que recebeu. “Isso não significa que eu falei ou concorde”, afirmou. “Já estou deixando claro que não afirmei nada disso. Só repassei um WhatsApp que recebi”.Afrânio Barreira, do Coco Bambu, que teria enviado um gif batendo palmas para a mensagens incitando o golpe, disse desconhecer qual seria o teor do apoio ao golpe de Estado citado no grupo.
A assessoria do grupo Multiplan enviou nota em que afirma que o empresário José Isaac Péres está viajando e, por essa razão, não responderia diretamente. Já os empresários André Tissot, Carlos Molina, Ivan Wroble, Luciano Hang e Vitor Odisio não retornaram o contato da coluna.
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