Política
"Brasil precisa ter atenção às Forças Armadas", diz advogado que teve acesso a áudios que revelam tortura
Advogado teve acesso a 10 mil horas de gravações das sessões do Superior Tribunal Militar (SPM), comprovando as tortura praticadas contra opositores durante o regime
Foto: Reprodução - Rádio Metropole
O advogado Fernando Fernandes disse, em entrevista nesta segunda-feira (2), à Rádio Metropole, que o Brasil "ainda não consolidou o regime democrático", após o período de 21 anos de Ditadura Civil-Militar no país (1964-1985), além de defender que o país tenha atenção especial às Forças Armadas.
Fernandes, ao lado do historiador Carlos Fico, professor titular de História do Brasil da UFRJ, teve acesso a 10 mil horas de gravações das sessões do Superior Tribunal Militar (STM), comprovando as tortura praticadas contra opositores durante o regime. A revelação dos áudios foi feita pela jornalista Miriam Leitão, após o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), tripudiar da tortura sofrida pela jornalista.
"A carta de 1988 é uma carta fundante da democracia no país, mas ainda é preciso muito cuidado e atenção com três instituições, que precisam de um amadurecimento na democracia. São elas: as Forças Armadas, o Ministério Público e o Judiciário", disse o advogado.
"Claramente as Forças Armadas devem desculpas ao país pelas torturas cometidas em 1964. Os relatos são de choques elétricos em regiões genitais, mulheres perdendo filhos por isso. Coisas inacreditáveis que ocorreram em razão da Doutrina de Segurança Nacional. Pedir desculpas é um compromisso dos militates com a democracia. Enquanto reagem negando, significa que continuam defendendo esses atos desumanos. O pedido de desculpas amadurecem as insituições brasileiras", completou.
Fernandes também falou sobre os áudios, aos quais teve acesso após intensa investigação. "Essa pesquisa começou em 1997, quando eu tava pesquisando a defesa feita desses presos políticos durante o regime militar. Em uma busca incessante acabei descobrindo que, ao lado do tribunal do pleno, havia uma salinha com inúmeras fitas de rolos com gravações de presos políticos. Eu consegui uma autorização para acessar esse material e consegui, depois de muito tempo, ter ele em mãos", disse.
O pesquisador disse ainda que o material já gerou livros e o filme 'Sobral, o homem que não tinha preço', contando a história do notório advogado Sobral Pinto, que atuou na defesa de perseguidos políticos neste período. "Vamos colocar todo esse material de forma pública para que seja acessado por todas as pessoas. Esse semestre todos os áudios ficaram publicos no site 'Voz Humana'. Eles [os áudios] mostram que os militares, mesmo da alta cúpula, sabiam da tortura praticada. Também mostra que havia corrupção no regime, derrubando o mito que os militares eram honestos e não praticavam desvios", disse.
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