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Em entrevista à Metropole, Lula comenta Segurança Pública, bets e eleição na Câmara dos Deputados

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Em entrevista à Metropole, Lula comenta Segurança Pública, bets e eleição na Câmara dos Deputados

Na última quinta-feira (17), o presidente foi entrevistado por Mário Kertész durante estadia para agenda em Salvador e Camaçari

Em entrevista à Metropole, Lula comenta Segurança Pública, bets e eleição na Câmara dos Deputados

Foto: Ricardo Stuckert/PR

Por: Metro1 no dia 24 de outubro de 2024 às 00:07

Atualizado: no dia 24 de outubro de 2024 às 09:32

Entrevista publicada originalmente no Jornal Metropole em 24 de outubro de 2024

Em um estúdio montado no Wish Hotel, na última quinta-feira (17), um encontro se repetia. O último deles aconteceu em janeiro, em uma conexão digital Salvador-Brasília. Desta vez foi presencial, com o olho no olho como conexão. A entrevista do presidente Lula a Mário Kertész tratou de temas delicados, mas também de amenidades. Logo ganhou repercussão nacional, afinal foi na Metropole que o presidente garantiu que, se a regulamentação não resolver, acabará com as bets e afirmou que até o final do ano apresentará o SUS da Segurança. O bom humor na bancada também já mostrava outro lado que ele fez questão de citar: vive a melhor fase de sua vida e “homem apaixonado não tem negócio de idade”. Lula ainda revelou que cogitou morar na Bahia, estado onde é rubro-negro de coração, torcedor do Vitória.

Mário Kertész: Uma coisa interessante é sua origem. Isso marca sua ação aos mais pobres, à fome. Estávamos acostumados a ter presidentes da elite, que falavam não sei quantas línguas, de família tradicional. Na sua primeira eleição, há 23 anos, participei com você, muita gente ficou assustado e você chega e o Brasil começa a caminhar. Agora isso também levou a uma das piores coisas recentes, que foi a Lava Jato. Destruiu a indústria brasileira, manipulou a eleição e soltou os demônios da ultradireita. Precisa ter muita força e energia para conviver com esse radicalismo e um Congresso arisco e superpoderoso por inação do presidente que antecedeu.
Luiz Inácio Lula da Silva:
Quando sento à mesa do governo para despachar, eu não sou um burocrata que tem como ensinamento só o que aprende na universidade, eu tenho o que eu aprendi na vida. Por que um cara da elite vai fazer o orçamento e pensar no pobre? Ele pensa em quem está todo dia no comitê fazendo pressão e quem chega no presidente é elite. Eu sou o único presidente que o catador de papel entra no Palácio, que prostitutas entram, que deficientes entram com o cão guia entram, porque eu sou o resultado dessa gente. Não acredito que um banqueiro, um grande empresário votou em mim. Trato todos eles com muito respeito e carinho, mas eu sei que quem vota em mim é o povo lascado desse país, é pessoal do mundo do trabalho. É para essa gente que eu tenho que governar. Não tenho dúvida de que lado estou, para quem que tenho que governar.

MK: Impressionante como a classe média se uniu ao pessoal da fake news, à direita e ultradireita. E o mantra deles é que o PT não se preocupa com educação e saúde. Essas coisas ficam entranhadas na cabeça das pessoas.
LILS: Deu uma celeuma muito grande a declaração de um deputado dizendo que não votou em mim, mas reconhecia que todo o benefício aos evangélicos foi feito por mim. O dia do evangélico, a lei do silêncio que não deixei passar, o dia do pastor. Fiquei com vontade de perguntar então porque ele votou no Bolsonaro, mas não polemizei. Teve uma repercussão muito boa para mim e muito ruim para ele. Na educação também. Todo mundo sabe que fui o presidente que mais fez universidade, foram 19 universidades e 178 extensões de universitárias. E sabe por que eu quero educação? Porque eu não tive. Ao invés de ficar com ódio porque não tive, quero que os iguais a mim tenham. Sonho que a filha da empregada doméstica possa disputar uma vaga na universidade com a filha da patroa, e ganhe quem for mais inteligente. Não é tirar direito dos outros, é dar oportunidade para todos.

MK: Mas isso não chega à população de forma que ela absorva e entenda, porque a contrapropaganda é perversa e sem escrúpulos.
LILS: Meu ministro da comunicação, Paulo Pimenta, entrava na minha sala nervoso com pesquisa, dizendo que estava mostrando o adversário forte, os evangélicos contra. Eu falava que é normal que seja assim, porque fui eleito prometendo um monte de coisa. O povo no primeiro ano não cobra muito, porque sabe que a gente está arrumando a casa. Sabe que pegamos uma terra ruim, fizemos o manejo, aramos, colocamos semente, adubo e agora é a época de colher. Então agora a gente tem que mostrar para o povo tudo o que já fizemos e tem que mostrar na rede social, na televisão e no rádio, para o povo saber usar o que tem.

MK: Nos últimos anos, o presidente da Câmara tem um poder fantástico. Você vai interferir na eleição do presidente da Câmara?
LILS: Eu tenho como prática política não me meter na escolha do presidente da Câmara. É uma coisa do Congresso Nacional, como eu respeito a autonomia de cada Poder, o meu presidente será aquele que for eleito [...] Quando nós tomamos posse, muita gente dizia que íamos ter dificuldade de governar. Meu partido só tem 70 deputados em 513, nove senadores em 81. E nós aprovamos uma PEC da Transição que deu R$ 165 bilhões pra gente governar esse país, no primeiro ano aumentou o dinheiro da Saúde e da Educação. Já aprovamos o Arcabouço Fiscal, a política tributária e até agora não perdemos nenhum projeto importante enviado para o Congresso. Lógico que muitas vezes o projeto que você manda não é aprovado do jeito que você quer, isso faz parte da democracia, mas é possível estabelecer uma mesa de negociação e encontrar um denominador que permita aprovar as coisas. E isso tem sido feito com Arthur Lira na presidência, tem sido feito com Rodrigo Pacheco na presidência.

MK: Bets e Segurança Pública. Essa é uma das grandes preocupações, sobretudo do povo que vive na periferia.
LILS: Na semana passada, tive uma reunião com 14 ministérios para discutir as bets e tínhamos uma opção: ou acabava ou regulamentava. Vamos ver se a regulamentação dá conta, se não der conta, eu acabo. Porque você não tem controle do povo mais humilde, de crianças com celular na mão. A segunda coisa é o crime organizado. Meu ministro Ricardo Lewandowski está apresentando uma proposta de PEC, quero reunir os 27 governadores e criar uma política de segurança pública que envolva a cidade, o estado e a União. Porque os estados não abrem mão do controle da polícia e a Polícia Federal só pode entrar quando o estado pede. Então, nossa contribuição termina sendo repassar dinheiro. Queremos definir o papel da Polícia Federal, da Rodoviária Federal, da Guarda Nacional, participando junto com as polícias estaduais. Precisamos ter uma coordenação nacional, uma espécie de SUS da Segurança Pública. Se Deus quiser, a gente manda a PEC ainda neste ano para o Congresso.

MK: Todo dia que eu defendo suas ideias, as ideias da democracia, dizem que eu sou vendido ao PT, que a rádio vive de pix do PT e eu não recebi até hoje [risos].
LILS: Se Mário tivesse feito alguma proposta de dinheiro, eu certamente não teria com ele a relação de respeito que tenho. Uma coisa que é importante é essa relação de sinceridade. As pessoas estão sendo convencidas todo dia que político ou pessoa pública é ladrão. Precisamos mostrar com atitudes que não é assim, minha relação com você é antiga [...] As pessoas que quiserem te julgar precisam conhecer a tua biografia, não é à toa que sempre que eu posso peço para fazer uma entrevista com você. E, quando você tiver alguma coisa interessante para me perguntar, me ligue.