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Lilia Schwarcz: A democracia é o melhor regime, enquanto não inventarem outro

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Lilia Schwarcz: A democracia é o melhor regime, enquanto não inventarem outro

Imortal da Academia Brasileira de Letras, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz rebateu a ideia do mérito na sociedade brasileira

Lilia Schwarcz: A democracia é o melhor regime, enquanto não inventarem outro

Foto: Divulgação/Companhia das Letras

Por: Metro1 no dia 22 de agosto de 2024 às 09:50

Matéria publicada originalmente no Jornal Metropole em 22 de agosto de 2024

O tal do mérito ganhou outros contornos nos debates sobre democracia. Alargou o conceito para conseguir justificar a filtragem que a desigualdade, o racismo, o machismo e outros ismos fazem na chegada aos espaços de poder. “Quem chega lá é porque tem mérito, quem não chegou não se esforçou o bastante”. Imortal da Academia Brasileira de Letras, a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz é uma das intelectuais que rebate a ideia. Em entrevista à Metropole, ela classificou o mérito como mais uma versão do “mito da democracia racial”, corrente que nega a existência do racismo no Brasil.

“Sabemos que as pessoas negras não têm os mesmos direitos. Durante séculos foram proibidas de ter educação. Sabemos que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão mercantil e nunca trabalhamos no sentido real da inclusão social. Não que não exista mérito, mas as pessoas não têm acesso ao mérito da mesma maneira”, afirmou.

Se podemos falar em esforço, aqueles que tentam justificar a filtragem aos espaços de poder têm se esforçado. Além do mito do mérito, eles adotam as críticas aos movimentos identitários, defendem que eles segregam ao invés de unir. Mas, para Lilia, essas narrativas partem de um falso pressuposto de que os direitos são iguais.“É uma falácia da nossa democracia. A democracia é o melhor regime, enquanto não for inventado outro. Mas na Grécia já começou desigual. Não votavam estrangeiros, mulheres, negros. Em um país tão desigual como o Brasil, é muito difícil falar em direitos iguais, em direitos igualados”.

A aprovação da PEC da Anistia, que perdoa multas de partidos que descumpriram cotas raciais em eleições passadas, mostra, segundo Lilia, como o país está mergulhado em um ciclo vicioso que não corrige o cenário de representatividade e desigualdade. Enquanto isso, 55% da população não tem acesso às posições de protagonismo e “o Brasil segue perdendo mentes e possibilidades”.