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Bahia está com negociação avançada com o grupo City e pode se tornar SAF para receber investimento
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Bahia está com negociação avançada com o grupo City e pode se tornar SAF para receber investimento
Vista como tábua de salvação, SAF pode apresentar riscos; no Bahia, Grupo City está próximo de fechar compra do departamento de futebol
Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia
Texto originalmente publicado no Jornal da Metropole em 17 de março de 2022
Uma sigla de três letras não sai da cabeça dos torcedores nos últimos tempos: SAF. É a tal da Sociedade Anônima do Futebol criada pela Lei 14.193/2021, promulgada em agosto do ano passado.
A lei criou novas regras para os clubes se tornarem empresa e oferecer seguran-ça jurídica para atrair investidores que, ao se tornarem sócios majoritários, passam a comandar o departamento de futebol.
Botafogo e Cruzeiro venderam 90% da SAF por R$ 400 milhões e foram os primeiros clubes brasileiros a se tornarem empresa sob o novo modelo. O Vasco tam-bém aguarda aprovação interna para se transformar em SAF e vender 70% de suas ações em troca do investimento de R$ 700 milhões no período de quatro anos.
O assunto também ocupa as rodas de conversa dos torcedores do Bahia. O pre-sidente Guilherme Bellintani confirmou que dois grupos já procuraram o tricolor, mas não confirmou os nomes. Para fechar a parceria, porém, o clube vai precisar se transformar no novo modelo.
O torcedor vai decidir se quer esse des-tino ou não para a instituição. O conselho deliberativo e a assembleia geral de sócios precisam aprovar a mudança.
O Jornal da Metropole apurou que o City Football Group negocia com o Bahia. Os in-vestidores do grupo empresarial também possuem participação no fundo de investimentos dos Emirados Árabes, que adquiriu em dezembro passado a Refinaria Landul-pho Alves, em São Francisco do Conde, na Grande Salvador. A negociação está avançada, mas ainda haverá uma discussão interna no clube para aprovar a proposta. Esse processo deve levar cerca de três a quatro meses.
A negociação entre o City Group e o Bahia cria uma sinergia em termos de pro-moção e marketing com a Acelen, empresa criada pelo fundo Mubadala para operar a refinaria. “Os árabes usam muito o chamado ‘sportwashing’, que é o investimento em clubes populares para construção/melhora da imagem”, explica a fonte ouvida pela reportagem, em anonimato.
A Acelen já enfrenta resistências na Bahia por causa dos cinco aumentos no preço dos combustíveis nos primeiros 60 dias do ano.
O City Group tem participação em outros 15 clubes espalhados pelo mundo. Dois deles estão na América do Sul: o Montevideo City Torque, do Uruguai, e o Clube Bolívar, da Bolívia.
No Vitória, o assunto ainda não está em pauta. Segundo o presidente Fábio Mota, o plano é subir para a Série B para valorizar a marca e depois discutir a SAF.
“Temos que subir para pensar em uma solução de investimento. Vamos contratar uma empresa para fazer esse diagnóstico do clube, para depois discutir a SAF no conselho (deliberativo) e com os sócios”, afirma.
Especialistas em direito esportivo listam pontos positivos e negativos do modelo da SAF. Para o advogado Milton Jordão, o ponto a favor é a chance maior de captação de recursos. O negativo é a concentração de poder. “A SAF concentra o poder em uma pessoa. No clube tradicional, o poder é mais difuso com a participação do conselho deliberativo, da torcida. Cada clube precisa avaliar dentro de sua realidade qual modelo adotar”, explica.
O advogado Cristiano Possídio acredita que a lei da SAF pode aquecer o mercado do futebol brasileiro, trazendo uma possibilidade de salários adequados e inves-timento nas divisões de base. No entanto, ele ressalta que a profissionalização do fu-tebol depende de cada gestão.
EXPERIÊNCIAS NEGATIVAS
A dupla Ba-Vi se tornou clube empresa no final da década de 1990. Após um ano, os investidores decidiram passar a admi-nistração do departamento de futebol para os dirigentes dos clubes.
Em 2004, o Vitória comprou 51% das ações que haviam sido adquiridas pelo grupo Excel. Já o Bahia procurou o banco Opportunity para dar fim ao contrato em 2006.
Até hoje há um processo judicial se arras tando no qual o antigo investidor cobra R$ 100 milhões ao Esporte Clube Bahia por descumprimento do acordo firmado em 2006. O apor-te inicial do banco foi de R$ 12 milhões à época.
Os advogados ouvidos pela reportagem contam que o cenário legal atualmente é diferente com a SAF. “A grande diferença é que hoje tem uma lei específica que mergulha no assunto. A lei da SAF está tratando certos problemas, estabelece como fica a associação espor-tiva, os símbolos, o pagamento dos credores, a tributação, enfim, a lei discrimina cada ponto”, explica Milton Jordão.
O advogado e conselheiro membro da comissão que discute a SAF no Bahia, Vicente Pithon, argumenta que, além do ordenamento jurídico atual ser diferente, o contrato feito pelo grupo que controlava o tricolor na época não tinha transparência. “Havia condições que não foram discutidas no conselho, que se mostraram bastante ruins depois”, explica.
Pithon afirma que, quando for colocada uma proposta na mesa, o conselho delibera-tivo do Bahia vai ter acesso a 100% do contrato para discutí-lo.
“Qualquer negócio envolve risco. O que se tenta é construir um contrato que te proteja. O risco é da natureza do negócio. Um bom contrato pode estabelecer mecanismos de proteção”, afirma.
No entanto, independente do tipo de con-trato, passam automaticamente para a SAF os direitos federativos dos jogadores e os demais contratos esportivos, a exemplo dos direitos de transmissão das partidas — ambas são as principais receitas dos clubes de futebol no Brasil.
“A SAF é um caminho que pode ser sem volta, por isso precisa ser bem pensada. Não é uma brincadeira. O investidor vai ter acesso às competições e às verbas do departamento de futebol. Não é o único caminho para se tor-nar mais competitivo, mas é uma alternativa”, ressalta Milton Jordão.
Possídio aponta que a SAF tem se apresentado como a única alternativa para alguns clubes superendividados se reerguerem, como é o caso do Cruzeiro, Botafogo e Vasco.
Virar empresa, porém, não é garantia de sucesso esportivo. “É necessário ter um projeto bem elaborado, sério, com reconhecimento dos débitos, criar um plano de aprovação para todos os credores e buscar um player (investidor) que tenha vinculação, conhecimento do mercado de futebol para que as coisas fluam bem entre o clube e a empresa”, enumera.
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