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Silvio Mendes lembra episódio de racismo: 'Quase me derrubou'
Narrador esportivo disse, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (22), que ouviu de colega que deveria ser mecânico de carro

Foto: Tácio Moreira/ Metropress
O narrador esportivo Silvio Mendes relatou, em entrevista à Rádio Metrópole hoje (22), um caso de preconceito racial que sofreu na sua trajetória, quando atuava na rádio Excelsior que “quase” que o derrubou.
Ele disse, que em uma reunião com o chefe da equipe, Fernando José, eles estavam discutindo qual seria o slogan dos locutores e foi escolhido para Sílvio o nome “Locutor show”.
“Tinha um cidadão na mesa, que vou omitir o nome, já que ele não está mais aqui. Ele disse: ‘Menino, você quer ser locutor esportivo mesmo? Eu, se fosse você, ia ser mecânico de carro, para sujar a mão, porque mecânico de avião, acho que você não tem competência para isso’. Eu perguntei porque. Ele disse que locutor preto no Brasil só tem um, que é Orlando Batista, no Rio de Janeiro. Ele disse para eu esquecer”, contou.
Diante do que ouviu do colega, Silvio conta que ficou “desarmado”, mas decidiu não responder à altura da ofensa.
“Eu fiquei ali desarmado na reunião. Mas acho que ali me parece que houve toque divino. Eu disse que não ia responder nada a ele. A resposta que posso dar hoje em dia é que escolheram 'Locutor Show' e acrescentaram depois 'Locutor Show do Brasil' e ele não viu isso. Prontou, acabou. Ele não está mais aqui para ver. Estou com 49 anos (de rádio), conheço 29 países toda a América do Sul, toda a Guiana Francesa, 19 da Europa, Ásia, Coreia”, comemorou.
Aos 73 anos e atuando na Rádio Metrópole hoje, ele conta que já passou pelas rádios AM Cruzeiro, Sociedade, Excelsior e Clube; já na FM, trabalhou na antiga Bandeirantes, Itaparica e Tudo.
Silvio revelou ainda como foi que surgiu o bordão “Segura a cabeça de mamãe”, durante uma conversa com um amigo que é operador da Sociedade.
"Ele (meu amigo) foi tirar restos mortais da mãe dele, depois de cinco anos de morta. Ele comentando o caso disse que 'Esses caras que trabalham em cemitério não tem amor a mãe. O cara pegou o caixão, puxou daqui e dali. O crânio de mamãe ia caindo no chão e eu disse para ele pra segurar a cabeça de mamãe. Quando falei isso para ele, ele teve cuidado de segura a cabeça’. Eu disse: ‘Que curioso você me contar isso, eu posso usar nas jornadas esportivas?’ Ele disse que seria uma homenagem a sua mamãe", lembra o narrador.
Silvio diz que começou a carreira na comunicação no serviço de auto-falante Mercúrio, uma empresa de publicidade da região da Cidade Nova. No entanto, também era vendedor de laranjas em uma banca localizada frente à Rádio Cruzeiro. Ao falar com o diretor da rádio, que era seu cliente das frutas, conseguiu uma oportunidade para atuar como operador na empresa.
Foi quando surgiu a oportunidade de trabalhar na área de plantão esportivo da Rádio Sociedade, onde pode desenvolver sua área de maior interesse. "Parei de vender laranja e, em 1969, surgiu uma grande oportunidade. Conheci Genésio Ramos. Eu disse que tinha costume de autofalante e trabalhava na Rádio Cruzeiro como operador, mas que meu negócio era futebol. 'Minha mãe fica reclamando que eu fico no fundo de quintal com lata de leite moça, imitando narrador de futebol", lembra.
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