Cultura
Carro do Axé leva folhas e força dos orixás de forma ambulante pelas ruas do Centro Histórico
Neguinho de Ogum está há 46 anos no Mercado de São Miguel, mas vende banhos e outras folhas também no famoso carrinho
Foto: James Martins / Metropress
Há 46 anos, Edson Santos, o popular Neguinho de Ogum comercializa folhas para banhos, limpezas e descarregos no Mercado de São Miguel, na Baixa dos Sapateiros. Com clientela fixa, fiel e confiante, há algum tempo, porém, com a queda no movimento da rua, ele sentiu a necessidade de inovar e circula o Centro Histórico com o seu famoso Carro do Axé, levando a domicílios, lojas, esquinas e becos o necessário para abrir caminhos, trazer dinheiro ou simplesmente dar uma boa aliviada.
"Chegou o Carro do Axé", grita com sua voz inconfundível na Misericórdia, Portas do Carmo, Terreiro de Jesus, Rua do Bispo e adjacências.
A freguesia é composta por baianos e turistas. "Quem gosta do bereguedê sabe que meu trabalho é garantido", diz em conversa com o Metro1. E completa: "Um paulista trouxe, certa vez, 14 pessoas para tomar o meu banho. Por quê? Ora, porque viu resultado. Já teve um grupo de 8 também, todos de Curitiba".
No Carro do Axé pode-se encontrar abre-caminho, vence tudo, tira teima, quioiô, pitanga e, entre outras folhas e ervas, o "peregum nativo, que tira todos os maus espíritos", assegura Neguinho.
O banho pronto custa R$25. E cada folha, a retalho, R$5.
Neguinho de Ogum tem ponto fixo no Mercado de São Miguel há 46 anos.
"Eu sempre compro na mão dele. Às vezes umas folhinhas de akòko pra botar na carteira na hora do aperto", diz o comerciante Adriano Santos, se referindo à folha (Newboldia Laevis) que em diversas culturas africanas é associada à prosperidade e, mais exatamente, ao dinheiro mesmo.
O Carro do Axé é um carrinho de supermercado convencional, recheado de folhas portadoras de mandingas. E, como diz a canção de Gerônimo e Ildásio Tavares, "sem folha não tem sonho". Torcedor do Bahia, Neguinho de Ogum, batizado Edson em homenagem a seu padrinho ("que é mais velho que Pelé", enfatiza) não diz se tem alguma combinação capaz de levar o tricolor a ser novamente campeão brasileiro. Mas, se depender de força e fé, os outros que se cuidem.
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