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Olodum leva multidão ao Pelourinho para comemoração dos 45 anos

Cultura

Olodum leva multidão ao Pelourinho para comemoração dos 45 anos

O show reviveu músicas e momentos marcantes da história do bloco

Olodum leva multidão ao Pelourinho para comemoração dos 45 anos

Foto: James Martins / Metropress

Por: James Martins no dia 26 de abril de 2024 às 10:53

Atualizado: no dia 26 de abril de 2024 às 13:27

Pelourinho cheio em plena quinta-feira de um outono chuvoso. O Grupo Cultural Olodum, nascido ali no dia 25 de abril de 1979, comemorava seus 45 anos com festa na varanda da sede. Baianos e turistas matando a sede de samba-reggae. "Se tiver Olodum aqui toda semana, o Pelourinho volta a ser o que era. Até Mandela ressuscita", diz em tom de brincadeira o barbeiro Zé do Pelô, em frente ao Solar Ferrão. Confirmando a sua força espalhada pelo mundo inteiro, o bloco afro levou uma multidão ao Centro Histórico para celebrar consigo.

Primeiro cantor a assumir o microfone, Lucas di Fiori começou lá atrás, no repertório dos primórdios, com um mix das músicas "Olodum na Sexta-Feira", de Heron de Angola, e "Reggae do Olodum", de Alírio Tumbaê — lançadas em 1980 e 82, respectivamente, sendo a segunda a primeira grande vencedora do Femadum (Festival de Música e Artes do Olodum). "Quando eu estiver passando / Eu quero amor e alegria / Pegue sua fantasia / E venha conosco brincar" (...) "Toda negrada / Não vai sobrar nenhum / Dançando reggae / Sexta-feira no Olodum". E com essas canções, acompanhadas no gogó por foliões fiéis, o bloco do Pelô voltou ao primórdio dos primórdios.

Isso porque os dois compositores estão ligados ao universo do Ilê Aiyê, tendo Heron sido um dos cantores mais marcantes do bloco afro pioneiro e Alírio como morador do Curuzu ainda hoje. Um pouco depois, no Cravinho do Carlinhos, encontro Mario Pam, atual regente da Band'Aiyê. "Vim prestigiar o Olodum", ele diz. E continua: "O Olodum é um fenômeno de Salvador. É um filho do Ilê, claro, mas um filho prodígio e rebelde, que promoveu mudanças. Soube guardar tradições, mas também modificou muita coisa e, por isso, conquistou o mundo. Esse batuque é foda, ressoa da China aos Estados Unidos".


Todos os acessos à Casa do Olodum estavam lotados de fãs do bloco.

O fato é que dois dos principais alavancadores do bloco do Pelô, João Jorge e Neguinho do Samba, vieram mesmo do Ilê, no início dos anos 1980, e acharam ali o território propício para expandir os territórios do universo percussivo baiano, fazendo do Olodum o bloco afro mais conhecido no mundo, tendo inclusive, como é sabido por todos, atraído Paul Simon e Michael Jackson para gravar no Pelourinho. "É um dos dois maiores embaixadores do Brasil", afirma Clarindo Silva, sem medo de errar. O outro, segundo ele, é Jorge Amado.

Voltando à Varanda Cultural, mais cedo encontrei o amigo Oliver, cabelereiro cuja imagem, com trancinhas de miçangas, também é um cartão-postal do Pelô e foi exportada grandemente. Hoje com visual mais discreto, ele também não resistiu à força dos tambores e me chamou para chegar mais perto. Varamos a multidão na rua Frei Vicente e ficamos bem próximos à massa sonora. Na sequência das canções, foi a vez de "Mel Mulher" (Lula Novaes e Sandoval Melodia), lançada no disco "O Movimento", de 1993. Ao redor, às vezes o clima parecia querer esquentar, Oliver me fazia sinais de "fique esperto", e ao mesmo tempo a galera cantava: "Não, não brigue, não mate, não morra não, porque a vida é preciosa, não deixe passar em vão".


Oliver com o visual que o consagrou e que marca uma fase do Pelourinho.

Impossível não pensar no momento de violência que a cidade vive, tensões que às vezes interferem também nas atividades dos próprios blocos afro, como o Olodum, inclusive no Femadum (donde um dos autores de "Mel Mulher", Sandoval Melodia, é o maior vencedor). Um misto de desespero e esperança. Juventude negra se matando em vão e o ressoar de uma canção assim: "Tô desacordado, não sei o que faço, vou enlouquecer". E ela mesma responde: "Amar, amar, amar eu amarei...". Uma mensagem poderosa e necessária repetida como refrão: "Não, não brigue, não mate, não morra não, porque a vida é preciosa, não deixe passar em vão".

O bloco aproveitou a ocasião para anunciar o tema para o Carnaval 2025: "Olodumaré - O Senhor do Universo, raízes e origens do Deus Supremo". Quem sabe esse retorno de uma agremiação tão importante como o Olodum às suas próprias raízes nos ilumine no sentido de nós mesmos e aponte soluções para o viver em vão que assola o estado e que a mera Segurança Pública não é capaz de resolver.