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Professor de história e aluna de mestrado são ameaçadas com processo por 'Netflix da Direita'

Cultura

Professor de história e aluna de mestrado são ameaçadas com processo por 'Netflix da Direita'

Produtora Brasil Paralelo, assumidamente de direita e conservadora, processa acadêmicos por postagem feita em julho

Professor de história e aluna de mestrado são ameaçadas com processo por 'Netflix da Direita'

Foto: Divulgação

Por: Geovana Oliveira no dia 20 de agosto de 2021 às 18:24

A produtora Brasil Paralelo, assumidamente de direita e conservadora, tem ameaçado processar acadêmicos que fazem críticas à empresa ou aos seus conteúdos. Nesta sexta-feira (20), foi a vez de Carlos Zacarias, professor de história da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e colaborador do Grupo Metropole, receber uma notificação extrajudicial por uma postagem feita em julho no Facebook. 

No dia 11 de julho, após ver que o caderno de apoio para o ensino de História da Secretaria de Educação da Bahia indicava um conteúdo da produtora gaúcha, o professor escreveu que era necessário "rever urgentemente esse material didático". Na publicação, Zacarias criticava a Brasil Paralelo. "Para quem não sabe essa produtora é olavista e, pelo que dizem, vem sendo vitaminada por verbas do governo Bolsonaro", afirmou. "O Brasil Paralelo não é uma produtora qualquer, mas um canal que produz "conteúdo" de história de caráter revisionista/negacionista". 

Essas aspas foram destacadas com grifos pelo advogado da Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S.A na notificação enviada, somada à frase de conclusão do professor de história: "Negacionismo e falsificação da história é caminho aberto para o fascismo". No documento, a produtora afirma que a publicação "se reveste de linguajar difamatório em relação à empresa" e dá um prazo de sete dias (contados do recebimento da notificação) para que Zacarias publique o texto-retratação da produtora. 

No texto, a Brasil Paralelo reforça sua "imparcialidade" e "apartidarismo", e nega efusivamente a ligação com Olavo de Carvalho, guru de Jair Bolsonaro (sem partido). Além de destacar seu sucesso junto ao público que, de fato, consolida a empresa como uma espécie de 'Netflix da Direita'. Criada em 2016 por um trio de estudantes universitários de Porto Alegre, a produtora de vídeos se mudou para São Paulo em 2018, onde já aluga dois andares inteiros em uma torre empresarial na Avenida Paulista. 

Com o crescimento de recursos, a produtora gaúcha, que é alvo de investigações na CPI da Covid e na CPI das Fake News, tem ainda um pedido de quebra de sigilo da sua conta bancária — feito pelo senador Renan Calheiros. 

Além de enviar notificações a quem critica a empresa, a Brasil Paralelo interpela ainda quem pesquisa a produtora. Uma das integrantes do grupo de pesquisa Politiza, do professor Zacarias, que estuda a história política dos partidos de movimentos contemporâneos de esquerda e direita, também recebeu uma notificação extrajudicial. 

A pesquisadora paranaense Mayara Balestro estuda a produtora já há três anos. Em 2020, com o colega baiano Eduardo Pereira, lançou um artigo sobre a Brasil Paralelo em um e-book intitulado 'Nova Direita, Bolsonarismo e Fascismo: Reflexões sobre o Brasil contemporâneo'. Em junho deste ano, pessoas envolvidas no livro digital e também a editora, receberam notificações. 

"Em junho recebemos essa notificação extrajudicial e entrei em contato com advogados. Mandaram também uma notificação para que a editora desse um direito de resposta dentro do e-book e se desculpar. A editora se precipitou e fez o que eles pediram. O certo seria reunir essas quatro pessoas que foram notificadas, mais a editora, e tomar uma posição. Mas como é uma pequena empresa, a editora ficou com medo, a gente também ficou desesperado", conta a pesquisadora.  

Essa é a primeira vez que Mayara se pronuncia publicamente sobre o caso, por medo de represálias. "A gente só tomaria posição se tivesse aparato jurídico para nos proteger. Existe uma atuação do Brasil Paralelo em relação a isso, atacaram um doutorando da UFF e pesquisadores de Minas Gerais. É censura", afirma. 

De acordo com Mayara, essas notificações são uma forma de fazer com que parem de falar sobre a empresa. "É uma forma de ameaçar".