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Historiador fala de preconceito contra povo Judeu: ‘Ainda somos a bola da vez’ 

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Historiador fala de preconceito contra povo Judeu: ‘Ainda somos a bola da vez’ 

Outro estigma que o povo judeu carrega é o de ser usurário, faminto por dinheiro

Historiador fala de preconceito contra povo Judeu: ‘Ainda somos a bola da vez’ 

Foto: Reprodução / Youtube

Por: Alexandre Galvão no dia 21 de agosto de 2020 às 14:13

Professor da Universidade Federal do Espírito Santo, o historiador Sérgio Alberto Feldman remontou a criação dos estigmas que foram colocados ao longo dos anos sobre o povo judeu. Em entrevista a Mário Kertész, na Rádio Metrópole, o professor disse que o povo Judeu ainda é vítima de falar preconceituosas e é vítima de fake news milenares, como a suposta responsabilidade pela morte de Jesus Cristo. 

“Essa é uma fake news muito antiga. O fake news não é só produto da família Bolsonaro, é uma coisa antiga. Esse estigma de chamar os Judeus de deicidas, é uma construção. O Cristianismo cresceu dentro do Judaísmo, seria uma seita judaica que acreditava que o Deus tinha nascido. Esse grupo queria crescer e se tornar hegemônico, precisava de uma legitimação. Era uma religião antiga. Para chamar o judaísmo de religião ilícita, precisava de mudar o patamar. E criaram isso. É uma coisa tão absurda… os judeus tinham uma pena de morte: apedrejamento, que está nas escrituras. Quem julga era o torturador romano Pilatos, ele condena Jesus a uma pena de morte romana. A crucificação é romana. Tem aí o começo de um absurdo total. Acusam o Judeu de ter matado Jesus. No caso dele ser executado por blasfêmia, ele seria apedrejado pelo Judeus. Poderia ser executado? Poderia. Mas ele foi executado pelo Estado Romano”, conta. 

Outro estigma que o povo judeu carrega é o de ser usurário, faminto por dinheiro. Para Feldman, essa é outra construção histórica que “pegou” pelas diferenças do povo judeu. “Isso pegou através de uma história de longa duração. Ela foi etiquetada nos judeus. Os judeus do mundo muçulmano e cristão foram tirados da agricultura. No mundo muçulmano ainda trabalhavam na terra quando o governo criou o imposto sobre produção agrícola, que era 20% da produção. Isso desestimulou os judeus. Eles foram para as cidades, trabalharam no comércio, serviços bancários. Mas ainda não é tão grave isso da usura”, conta, completar:

“O estigma pior é do mundo cristão. Trabalhavam na terra, perderam a segurança por conta das invasões. E isso se desestabilizou. Começou a se usar um sistema onde a terra era dos senhores cristãos, você fazia um juramento de vassalagem, e o juramento feito em termos cristãos e o juramento em termo de servidão. O judeu não poderia fazer o juramento e nem poderia ser senhor, então venderam suas terras e foram para o comércio. Com a evolução do ocidente medieval, os judeus começaram a ter concorrência cristão do comércio e foram jogados para a condição de usurários, banqueiros. Com isso, começaram a ser vistos de forma ainda mais estigmatizada. Se tornaram como ‘contrários à lei de divina’, pois cobravam juros. Os judeus não tinha saída, mas o estigma ficou”, narra. 

Para o professor, os judeus sempre foram um povo visível, diferente, e, por isso, alvo de mentiras e ataques. “Por pensar diferente, se vestir diferente, não aceitar o panteão de deuses e santos de outra religião, ele é um elemento visível para catalisar isso. Hoje em dia, a bola da vez ainda é o judeu, mas existe racismo, misoginia, o nosso presidente e sua corte, eles falaram e falam coisas que são inaceitáveis numa democracia. Aquele que se pretendia ministro da educação, tinha que ir pra Haia”.