Salvador 476 anos: moradores compartilham dores e delicias de viver na primeira capital do Brasil

Salvador completa mais um ano de história neste sábado (29). Dona de praias deslumbrantes e do maior Carnaval do mundo, a primeira capital do Brasil celebra 476 anos de uma história rica, repleta de cultura, resistência e contradições. Da Cidade Alta à Cidade Baixa, seja no Uruguai, no Garcia, na Pituba ou Candeal, todo mundo sabe que Salvador pulsa uma energia única. Porém, ao mesmo tempo que é um lugar conhecido por seu calor, é também uma cidade de desafios e dificuldades. Por isso, o Metro1 foi às ruas ouvir dos moradores as dores e as delicias de viver nesta cidade.

Uma cidade de encantos e ancestralidade

Com um povo acolhedor e cheio de alegria, é impossível caminhar pelas ruas da capital baiana sem sentir a sua efervescência cultural. Para Isaac Silva, químico e doutorando que deixou a cidade para estudar fora, Salvador tem um diferencial incomparável: "A melhor parte de viver em Salvador é sentir a energia do lugar”. Para ele, a ancestralidade é forte e presente. A cultura está tanto nas feiras populares quanto nos artistas que declamam poesia dentro dos ônibus. 

O Carnaval, reconhecido neste ano pelo Guinness Book como o maior carnaval de trio elétrico do mundo, para Isaac, é ”um espaço de expressão da ancestralidade”. Malê Debalê e Olodum marcam presença firmes e fortes aí. Diferente de Isaac, Djavan Pimentel saiu do interior para estudar marketing na capital. O estudante de marketing acredita que a alegria e a hospitalidade ajudam a tornar o lugar especial. É um tempero único, mas não é aquela pimenta carregada que a baiana de acarajé faz, é ainda mais saboroso.

O outro lado da cidade

Apesar dos pesares, Salvador também é uma cidade de desafios. Como toda metrópole brasileira, enfrenta problemas de segurança, mobilidade e infraestrutura. "A segurança está muito difícil. Mesmo em bairros mais tranquilos, há medo", desabafa dona Irene, de 71 anos. A violência, que impacta tanto moradores quanto turistas, também afasta parte da população das festas populares. "No meu tempo, vivi muito o Carnaval, mas hoje a violência me assusta. Prefiro ver de casa, na televisão", conta Marize Oliveira, aposentada. 

O transporte público é outro ponto sensível. Dona Marize diz que os ônibus são envelhecidos e não dão conta de tanta gente. Djavan compartilha essa dificuldade: "Com o trânsito e transportes, é um desafio se deslocar." A infraestrutura também deixa a desejar, especialmente para os mais velhos. "As calçadas são um perigo. Para uma pessoa idosa, andar na cidade é um desafio", reclama Marize. Dona Irene concorda: "Infraestrutura e segurança são os maiores problemas".

Um lugar que sempre deixa saudades

Entre partidas e chegadas, Salvador é uma cidade que marca quem passa por ela. Há coisas que são tão culturais, tão próprias, que carregam a essência do viver soteropolitano. Quer expressão mais de Salvador do que soltar aquele “lá ele” quando alguém vem de ousadia? Isaac, morando fora, sente falta do calor humano e da forma como as pessoas interagem. “Em Salvador, estava em uma feira comprando frutas e perguntei ao feirante se era ele que estava na banana. Ele soltou logo o ‘lá ele’. Isso não tem em outro lugar. Aqui, tem coisas que eu falo e ninguém entende”, revelou.

Salvador é um lugar onde a beleza e a dificuldade caminham lado a lado. No seu aniversário, fica a celebração de tudo o que faz da cidade um lugar singular: a cultura vibrante, o povo acolhedor e a paisagem paradisíaca. Mas também fica a reflexão sobre os desafios que precisam ser enfrentados para que a cidade continue sendo um lar melhor para todos os seus filhos e filhas.