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Dia da luta LGBTQIA+: Salvador é a 5ª capital com maior índice de mortes de pessoas da comunidade

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Dia da luta LGBTQIA+: Salvador é a 5ª capital com maior índice de mortes de pessoas da comunidade

Já em nível estadual, a Bahia ficou na sexta posição com 1,13 mortes por milhão de habitantes

Dia da luta LGBTQIA+: Salvador é a 5ª capital com maior índice de mortes de pessoas da comunidade

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Por: Gláucia Campos no dia 17 de maio de 2024 às 18:24

Nesta sexta (17) é comemorado o Dia Mundial da Luta Contra a LGBTfobia, a data foi escolhida por representar o dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID), em 1990. Porém, apesar das conquistas da comunidade, a violência vivenciada pelas pessoas LGBTI+ ainda é uma realidade em diversos locais, inclusive em Salvador, quinta capital com maior índice de mortes de pessoas da comunidade.

Em 2023, 230 pessoas LGBTI+ morreram de forma violenta no Brasil, o equivalente a uma morte a cada 38 horas. Entre elas, 184 foram assassinatos, 18 suicídios e 28 outras causas, os dados são do dossiê elaborado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+, publicado nesta semana. Ao considerar o número de vítimas por milhão de habitantes, Salvador divide o quinto lugar do ranking ao lado de Maceió, Curitiba, Campo Grande e Belo Horizonte. A capital soteropolitana registrou um total de 1,14 mortes por milhão, em número absoluto foram registradas 5 mortes violentas. Os índices mais altos foram observados em São Paulo (11); Manaus (8); Rio de Janeiro (7) e Fortaleza (6).

Já em nível estadual, a Bahia ficou na sexta posição com 1,13 mortes por milhão de habitantes. O dossiê é resultado de um esforço coletivo de produção e sistematização de dados sobre a violência e a violação de direitos LGBTI+. E o uso da sigla LGBTI+ se deve aos dados serem sobre pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, mulheres e homens trans, pessoas transmasculinas, não binárias e demais dissidências sexuais e de gênero. Apesar dos números já serem expressivos, é possível ainda que exista uma subnotificação. Isso se deve pela ausência de dados governamentais sobre o assunto. 

Insegurança, gíria regional

Para as pessoas LGBTQIA+ que vivem na capital baiana, receber olhares discriminatórios e tratamentos “diferentes" em alguns locais fazem parte do cotidiano. Sthefani Monteiro contou que, enquanto uma mulher lésbica, não se sente confortavel para expressar sua sexualidade pelas ruas.

“Não me sinto segura, evito trocar afetos em público por conta dessa questão da homofobia. Eu sinto isso muito presente em diversos âmbitos, desde a faculdade até mesmo nos meios de trabalhos, os olhares das pessoas e os julgamentos”, relatou. Para ela, um dos piores episódios de homofobia que já vivenciou foi quando três homens a perseguiram em um supermercado por estar vestida com roupas que eles consideravam “masculinas”. Já fora do estabelecimento, eles teriam perseguido o carro dela

Assim como Monteiro, o jovem Bruno Dias também relatou já ter recebido um tratamento diferente em alguns locais da cidade por conta da sua sexualidade. “Eu fui com meu, na época, namorado em um rodízio. E estava com uma promoção de casal com um valor promocional. Quando chegou na hora de pagar explicamos que o casal era eu e meu ex, a garçonete falou que ela ia fazer a promoção, mas que o dono do lugar já tinha comentado para equipe que não era para aceitar quando fosse casal de dois homens especificamente”, contou Bruno.

O que tem sido feito

Em 2021, o Ministério Público da Bahia (MP BA), por meio do Centro de Apoio Especial aos Direitos Humanos (CAODH), instalou no estado a primeira Promotoria de Justiça especializada na defesa da população LGBTQIA+. A divisão, coordenada pela promotora Márcia Teixeira, trabalha oferecendo assistência a pessoas da comunidade que foram vítimas de homofobia. De acordo com ela, só nos três primeiros meses de 2023, a divisão realizou aproximadamente 500 atendimentos e no mesmo período em 2024, foram realizados cerca de 800.

Para Teixeira, uma das formas mais estratégicas de combater a homofobia é com o investimento em políticas públicas de educação. “Muitas intervenções do Estado atendem a crise e não o problema. Não adianta você colocar cotas e não trabalhar com orientação e capacitação nos postos de trabalho, nas escolas de incluir determinadas temáticas sobre direitos sexuais e reprodutivos e identidade de gênero”, afirmou a especialista.