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“Existe algo bem maior do que essa construção, existe o ódio”, diz ialorixá sobre obras no Abaeté
Mesmo com recomendação de suspensão pelo MP, obras já estão em nível avançado, com contenção para dar início à escadaria
Foto: Reprodução/Youtube/Metropress
A ialorixá Jaciara Ribeiro, do Axé Abassá de Ogum, denunciou nesta segunda-feira (8), no programa Mojubá, na Rádio Metropole, a violência com a qual as obras do que seria o “Espaço Monte Santo” estão sendo feitas nas Dunas do Abaeté. “Há um racismo religioso muito grande, e racismo ambiental”, diz ao explicar como as obras seguiram em frente em meio a protestos.
“Eu queria acampar naquele espaço, mudar meu terreiro para lá, mas infelizmente quando o governo chega com a obra, é muito violento. Quando fui fazer meu primeiro vídeo lá, eu fui hostilizada e violentada”, afirmou a ialorixá, que contou que teve o carro socado por responsáveis pela obra após desligar a câmera.
No início deste mês, a líder religiosa gravou um vídeo para mostrar o avanço das obras, que já tem contenção para dar início à escadaria. Mas a ialorixá Jaciara também se preocupa com a intolerância dos evangélicos que ocupam a região tradicionalmente ligada às religiões de matriz africana. “Eles descem em grupos de 10, 15 pessoas, jogam bíblia — existe algo bem maior do que só essa construção, existe o ódio, e isso tem me deixado preocupada”, afirma.
Além das reclamações de intolerância religiosa, os especialistas ressaltam que a inserção da infraestrutura de concreto é incoerente com a Área de Preservação Ambiental (APA) das Dunas do Abaeté.
“Está sendo construída uma contenção para dar início à escadaria, então essa contenção já é de extrema agressividade porque ela já impacta visualmente, logo acima você tem uma zona de proteção visual, e tem incoerência no processo de zoneamento”, afirma o arquiteto e urbanista Iago Bruno Souza, arquiteto e urbanista, ativista no Fórum Permanente de Itapuã.
De acordo com o urbanista, a restinga da região já foi devastada com tratores. “A restinga e as dunas acabam sendo uma espécie de filtro para a salinidade. Na Boca do Rio, como não tem as dunas, o Centro de Convenções se acabou rapidamente. E por ser um ecossistema que é levado pela força dos ventos e tem essa sobreposição vento, água e areia, temos uma fragilidade muito grande, que não permite uma ocupação muito densa em diversos contextos”, explica.
Procurado pelo programa Mojubá, que vai ao ar toda segunda-feira, às 19h, o Ministério Público Estadual afirmou que dois procedimentos sobre o caso foram instaurados no órgão. A 1ª Promotoria de Justiça de Direitos Humanos recomendou a suspensão da obra, a remoção do nome “Monte Santo” das placas no local, e a garantia de que a comunidade, que mora na região, participe da escolha do nome do parque futuramente. O nome foi retirado, mas as obras continuaram. “A empresa respondeu que a obra tem licenciamento ambiental”, diz a nota.
O MP-BA afirma ainda que, a 4ª Promotoria de Meio Ambiente e Urbanismo na capital, que apura os fatos sob a perspectiva ambiental, aguarda o envio dos laudos periciais pelos órgãos competentes para avaliar e adotar medidas cabíveis.
Já a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) informa que a obra está regular, atendendo todos os parâmetros necessários, inclusive a licença ambiental. Quanto às recomendações do MP, diz que respondeu ao órgão, "atendendo algumas solicitações, a exemplo da retirada da expressão ‘Monte Santo’ da placa da obra”.
Confira a discussão completa no programa Mojubá:
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