Cidade
Baleado no braço durante serviço, motoboy busca Ifood para conseguir auxílio
Entregador precisou passar por cirurgia e até hoje não consegue voltar a trabalhar
Foto: Divulgação
No dia 2 de novembro, feriado de finados, um prestador de serviço do Ifood foi até o bairro de Paripe, em Salvador, para realizar uma entrega pela plataforma. O endereço, mais afastado de onde costumava trabalhar, o deixou inseguro. Por volta das 20h30, ele desativou o aplicativo para voltar para casa. Minutos depois, foi baleado.
O entregador, que preferiu não se identificar, precisou passar por cirurgia e até hoje não consegue voltar a trabalhar, mas diz não ter recebido qualquer assistência do Ifood.
Após passar a operação médica, sem apoio da plataforma, o homem continua com o braço enfaixado e sem o movimento completo da mão. Com isso, está sem renda desde o início de novembro.
"Não consigo trabalhar. Depois da cirurgia não tenho movimento da minha mão, meu braço está meio duro, dói bastante, tem que fazer fisioterapia. Estou fazendo pelo SUS porque não tenho como pagar. Tenho família, moro de aluguel -- a mulher não quer saber o que aconteceu, ela quer o dinheiro dela. Sou casado, tenho uma filha de 9 meses e uma enteada de 9 anos para sustentar", diz o trabalhador ao Metro1.
Desde o acidente, o homem tenta contato com a empresa para receber algum auxílio. O suporte do Ifood o encaminhou para contato com a seguradora, que respondeu só cobrir casos de lesão temporária nas cidades de São Paulo, Curitiba e Goiânia. A seguradora cobre em Salvador apenas casos de "morte acidental e invalidez permanente".
O trabalhador fez sua última entrega às 20h26 do dia 2 de novembro. Ele desligou o aplicativo e foi para casa. No percurso, entre a Regional e a Avenida Maria Lúcia, enquanto desacelerava para passar em um quebramolas, foi atingido por uma bala vinda de um carro que disparava para todos os lados, por volta das 20h40. Mesmo ferido, continuou pilotando a moto até a UPA São Marcos, onde deu entrada por volta das 21h07. Foi transferido ao HGE, cerca de 22h36. Foi internado no mesmo dia, e recebeu alta apenas no dia 18.
Após diversos pedidos de suporte do Ifood, ainda internado no Hospital, no dia 11, o entregador entrou em contato com o Projeto Caminhos do Trabalho. Uma parceria da UFBA com o Ministério Público do Trabalho da Bahia, o projeto auxilia gratuitamente trabalhadores para dar atendimento médico e assessoria jurídica.
No caso do entregador, o coordenador do projeto na Ufba, Vitor Filgueiras, conta que acompanharam os atendimentos e pediram o benefício previdenciário. "Isso é uma coisa muito importante que as pessoas não sabem: qualquer pessoa que tenha um vínculo de trabalho (não precisa ter carteira assinada) tem direito ao recolhimento [da previdência]. O trabalhador tem o direito, quem tem o dever é a empresa", afirma.
O professor de Economia conta ainda que a perícia do entregador está marcada para o próximo mês e entrarão na Justiça contra o Ifood.
"O problema dele agora é que ele precisa de alguma renda, ele não pode trabalhar. E a empresa não deu assistência nenhuma", conta Filgueiras.
O projeto Caminhos do Trabalho atua em defesa dos direitos dos trabalhadores, especialmente de entregadores por aplicativo e atendentes de call center. O foco nos entregadores começou no último ano. Como primeiro resultado, o projeto conseguiu que a Justiça do Trabalho reconhecesse o vínculo empregatício entre um entregador de aplicativo e a empresa Uber.
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