Bahia
Operadores de pirâmides financeiras agem sem medo, usando futebol como atrativo
A Polícia Civil da Bahia desmascarou, em agosto, o esquema milionário dos grupos D9 e Tips Clube, que misturava apostas esportivas e moedas digitais — uma roupagem moderna para a velha pirâmide financeira, famosa no Brasil com as Fazendas Boi Gordo, Avestruz Master e Telexfree, e no mundo com os esquemas de Bernard Madoff, que movimentaram cerca de 20 bilhões de dólares. Mas nada disso freou a atuação de novos operadores deste sistema [Leia mais...]
Foto: Metropress
A Polícia Civil da Bahia desmascarou, em agosto, o esquema milionário dos grupos D9 e Tips Clube, que misturava apostas esportivas e moedas digitais — uma roupagem moderna para a velha pirâmide financeira, famosa no Brasil com as Fazendas Boi Gordo, Avestruz Master e Telexfree, e no mundo com os esquemas de Bernard Madoff, que movimentaram cerca de 20 bilhões de dólares. Mas nada disso freou a atuação de novos operadores deste sistema.
A Metrópole acompanhou, nas últimas semanas, dois esquemas de pirâmide com representantes na Bahia: I7 e Investimento Real, que conquistam incautos com o mesmo discurso de multiplicar investimentos por meio do chamado trading esportivo — sistema de apostas em partidas de futebol ao vivo, semelhante a uma bolsa de valores. Os falsários chegam a prometer ganhos de 370% ao ano — o que não condiz nem com a realidade dos melhores apostadores do mundo.
R$ 5 bilhões: “Volume absurdo”
Em entrevista à Metrópole, o delegado Delmar Bittencourt, do Departamento de Combate ao Crime Contra o Patrimônio, revelou que o valor movimentado pode ter chegado a R$ 5 bilhões. “Avaliamos, inicialmente, que Danilo [Santana, fundador da D9 e hoje procurado] teve um lucro de R$ 200 milhões, mas essa é uma estimativa baixa. A gente acredita que pode chegar a R$ 800 milhões, pela movimentação e fluxo de pessoas no site, que tem cerca de 600 mil contas. A gente estima que isso girou de R$ 2 bilhões a R$ 5 bilhões. O volume de dinheiro é absurdo”, conta.
Por incrível que pareça, apesar de já ter mandado de prisão expedido no Rio Grande do Sul, Danilo Santana continua gravando vídeos incentivando os clientes da D9 a manter os pagamentos e conquistar novos “investidores” para o esquema.
Moeda fictícia
A I7, que chega a prometer absurdos ganhos de 373% ao ano, diz que vai pagar seus clientes numa moeda digital chamada Netscoin. O problema é que a Netscoin não existe. Em vídeos publicados no YouTube, organizadores da pirâmide já prometeram lançar a moeda digital — que se aproveita da valorização do Bitcoin — em julho e agosto, mas nada aconteceu. O único lugar em que a Netscoin existe é no próprio site da I7.
Trocando reais por “dinheiro de binários”
Simulando interesse no esquema da Investimento Real, descobrimos que, na verdade, a empresa é só uma fachada para a I7 — a pirâmide dentro da pirâmide. Questionado sobre o funcionamento do negócio, o operador deixou claro que o Investimento, de Real, não tem nada.
“Você vai abrir uma conta na I7 conosco. A nossa banca não está funcionando diretamente. A gente está investindo na I7. O investimento que vale a pena é de 2.049 dólares, que dá R$ 6.762. Você pode investir em uma ou mais de uma ‘conta presidente’, porque aí você poderia fazer uma composição pra já ter dinheiro de imediato na mão”, disse , antes de ponderar. “Dinheiro de binários”, numa referência à moeda digital fictícia oferecida pela I7.
Promessa de ganhos irreais
Os 373% apontados como ganhos dos investidores são, na prática, irreais. Consultados pela Metrópole, sites especializados no registro de apostas esportivas mostram que excelentes apostadores conseguem, no máximo, 50% de retorno do investimento no período de um ano. Ou seja, eventuais pagamentos tão grandes só poderiam ser alcançados por meio da pirâmide. A investigação da Polícia chegou à mesma conclusão. “Todo mundo virou trader esportivo. Eles falam que é marketing multinível, quando na verdade trata-se de pirâmide. As pessoas entram com dinheiro numa história de possíveis produtos que nunca se concretizam”, explica o delegado Delmar Bittencourt.
Sogra de operador sacou R$ 1 milhão
Na última quarta-feira (6), a Polícia Civil apreendeu R$ 920 mil na conta da sogra de Danilo Santana, fundador da D9. Edlane Alves de Oliveira era investigada pela participação no esquema e está sendo procurada pela polícia. O delegado Delmar Bittencourt afirmou que espera fazer prisões em breve.
“Nós estávamos monitorando a mãe de Danilo e descobrimos que a sogra dele teria sacado cerca de R$ 1 milhão. Nós monitoramos e pegamos o dinheiro lá em Itabuna”, afirmou. “Danilo continua ocultando bens, valores e reincidindo no crime”, completou o delegado.
Mesmo com o cerco se fechando, os piramideiros continuam a agir. Pouco antes do fechamento desta edição, o operador da Investimento Real tentou uma última vez atrair a reportagem da Metrópole para o golpe. “O que falta para sua decisão? Vamos fazer este investimento hoje?”
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