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Cavalo Marinho I: Maior tragédia marítima da Baía de Todos-os-Santos completa 7 anos

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Cavalo Marinho I: Maior tragédia marítima da Baía de Todos-os-Santos completa 7 anos

Sobreviventes e familiares ainda lutam por justiça enquanto lidam com as dolorosas lembranças da maior tragédia marítima da Bahia

Cavalo Marinho I: Maior tragédia marítima da Baía de Todos-os-Santos completa 7 anos

Foto: Alberto Maraux / SSP

Por: Daniela Gonzalez no dia 24 de agosto de 2024 às 09:05

O naufrágio da lancha Cavalo Marinho I, a maior tragédia marítima da Baía de Todos-os-Santos, completa sete anos neste sábado (24). Às 6h30, a embarcação partiu do Terminal Marítimo de Mar Grande, em Vera Cruz, Ilha de Itaparica, com 116 passageiros e 4 tripulantes a bordo, rumo a Salvador.

Poucos minutos depois, 19 vidas foram interrompidas, e 59 pessoas ficaram feridas. O desastre revelou uma realidade dolorosa de negligência e injustiça, deixando cicatrizes profundas, tanto físicas quanto emocionais, nos sobreviventes e nos familiares das vítimas. Sete anos após a tragédia, eles continuam a esperar por respostas que parecem cada vez mais distantes.

Indenização

Desde 2017, as ações indenizatórias vêm se arrastando num ciclo interminável de burocracia e decisões contraditórias. A Defensoria Pública da Bahia ajuizou 46 ações contra a CL Transportes Marítimos, dona da embarcação. Com o tempo, alguns sobreviventes e familiares optaram por advogados particulares, enquanto 36 processos continuaram com a Defensoria. Mesmo após a fase de instrução ser concluída em 2023,  uma inesperada decisão judicial transferiu os processos para a Justiça Federal, favorecendo os réus e empurrando o tão esperado julgamento para um futuro incerto.

A Defensoria, em uma tentativa de reverter essa decisão, inseriu recursos para manter os casos na Justiça estadual. No entanto, até o momento, a definição final sobre a competência judicial permanece em aberto, deixando as famílias à mercê de um sistema que falha em lhes proporcionar a justiça que merecem. Esse longo caminho de impunidade reflete a morosidade e os entraves burocráticos.

Responsabilidade

De acordo com o inquérito da Marinha, o acidente foi causado por uma série de negligências e imprudências. A lancha naufragou dez minutos após deixar o terminal. Entre as falhas apontadas, uma das mais graves foi atribuída ao proprietário da empresa e ao engenheiro responsável: a colocação de 400 kg de lastros (pesos usados para ajudar na capacidade de manobra). Esses objetos de concreto foram deixados soltos abaixo da sala de comando e deslizaram dentro da lancha, contribuindo negativamente para a capacidade de recuperação dinâmica da embarcação.

Em 2020, duas pessoas foram condenadas por negligência pelo Tribunal Marítimo, sendo consideradas as responsáveis diretas pela tragédia: Lívio Garcia Galvão Júnior, proprietário da empresa responsável pela operação da embarcação, e Henrique José Caribé Ribeiro, engenheiro responsável técnico pela embarcação.

Dor da espera

Na manhã do acidente, uma das cenas mais comoventes foi a de um bebê, Davi Gabriel, de apenas seis meses, sem vida nos braços de um socorrista. Capturada pelas câmeras de televisão e estampada nos jornais, essa imagem se tornou um dos símbolos mais dolorosos da tragédia. Em 2018, outra vítima, Adailma Santana Gomes, faleceu após sofrer de depressão e estresse pós-traumático — um distúrbio marcado pela dificuldade de recuperação após vivenciar um evento violento ou impactante. Sua família ainda luta para que Adailma seja reconhecida oficialmente como a 20ª vítima da tragédia. 

Há relatos dos primeiros a participarem dos salvamentos — passageiros, pescadores e moradores que estavam próximos ao local. Para muitos deles, relembrar a cena é como voltar ao fatídico 24 de agosto de 2017. Aqueles que sobreviveram e ainda precisam fazer a mesma travessia revivem a tragédia a cada viagem, com o amargo na boca e a dor no peito de lembrar a maior tragédia marítima da Bahia.