Bahia
Ataque hacker em aula online desperta debate sobre segurança digital nas escolas
Especialistas ouvidos pelo Jornal da Metrópole alertam para riscos e ressaltam que escolas e pais devem ter o diálogo como principal arma
Foto: Pixabay
A pandemia de Covid-19 levou as instituições de ensino a se adaptarem às aulas remotas e à educação à distância. Ao mesmo tempo, o aprendizado em ambiente virtual trouxe novos desafios e riscos para pais e alunos. Na última semana, os responsáveis por estudantes do 5º ano do ensino fundamental no Colégio Acadêmico de Vilas do Atlântico, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, denunciaram a invasão de uma sala de aula digital por hackers (leia mais). Os criminosos fizeram ameaças e exibiram vídeos pornográficos para a turma composta por crianças entre 10 e 11 anos de idade. Por meio de nota, o colégio informou que o caso foi registrado no Grupo Especializado de Repressão aos Crimes por Meios Eletrônicos da Polícia Civil.
Como evitar que novos incidentes aconteçam? Quais os riscos para os pais, os alunos e o colégio em uma invasão como essa? O Jornal da Metrópole ouviu especialistas em segurança e direito digital para responder a essas e outras questões. Para o psicólogo e diretor da ONG SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm, ocorrências como a registrada em Vilas mostram que as escolas precisam incorporar ao cotidiano as preocupações com segurança e cidadania digital. "Esse incidente é muito recorrente, existem maneiras fáceis de prevenir. A primeira coisa é sempre exigir senha e fazer uma divulgação desses links, das páginas de convite de evento, somente para as pessoas cadastradas na instituição. O Google tem ferramentas de segurança que você tem como permitir apenas quem tem matrícula na escola, por exemplo, poder acessar. Se é uma atividade para poucas pessoas, você usa esse controle. Se quiser divulgar isso amplamente, é melhor usar outras plataformas, como por exemplo o YouTube", explica. Nejm também ressalta que os ataques podem partir tanto de terceiros quanto dos próprios alunos. Por essa razão, os pais devem orientar os filhos sobre o comportamento adequado em ambientes digitais. "Tanto para prevenir, como também para alertar que os filhos têm que ter muito cuidado com os comentários que fazem na aula, o comportamento nos grupos de mensagens", explica.
Casos semelhantes foram registrados em aulas de escolas e universidades durante o ano de 2020, quando a pandemia de Covid-19 obrigou as instituições a suspenderem as atividades presenciais. Em setembro, um adolescente de 12 anos invadiu o sistema de aula online de uma escola particular do bairro Maraponga, em Fortaleza (CE), e substituiu as fotos dos alunos, inclusive a dele, por imagens pornográficas. Dois meses depois, hackers invadiram uma aula do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), para pós-graduandos da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). No ataque à plataforma Google Meet, os invasores postaram citações do líder nazista na 2ª Guerra Mundial, Adolf Hitler, o símbolo da suástica e abafaram a fala do professor com música em volume alto e sons de pornografia.
Segundo a advogada Ana Paula Moraes, especialista em Direito Digital, uma das primeiras atitudes a se tomar em um caso de ataque hacker é interromper o uso do equipamento até que seja realizada a perícia. "Desde o primeiro incidente, onde essa terceira pessoa, que é um criminoso digital, conseguiu ter acesso a essa plataforma, todos os equipamentos que estavam naquele momento ligados a essa plataforma digital deveriam ter sido desligados e custodiados pelo GME para uma perícia. Quando a gente fala de criminoso digital, a gente tem uma trilha de auditoria, de perícia forense. Se esses computadores continuarem a ser utilizados, essa trilha fica cada vez mais distante, porque as provas vão sendo apagadas", explica.
Ana Paula também faz alertas para a possibilidade de roubo de dados em invasões a aulas online. Segundo ela, os riscos vão desde a captura de imagens das crianças, para disponibilização em sites pornográficos, até a obtenção de senhas, logins e informações bancárias. "Além das ameaças e da exposição do vídeo pornô, a gente tem uma complementação de crime à medida que você tem a exposição da imagem dessas crianças, porque a gente não pode assegurar que esse mesmo hacker não fez a captura da imagem das crianças, e além disso a gente não sabe se esse hacker fez a coleta de dados pessoais e sensíveis", diz.
No caso do Colégio Acadêmico, Nejm avalia que o roubo de informações é uma possibilidade remota, pois não há sinais de vulnerabilidade do banco de dados. Quanto à exibição do material pornográfico para as crianças, o diretor da SaferNet reforça a importância do diálogo: "É uma situação que pode gerar um desconforto, algum prejuízo no sono, mas nada que uma conversa muito tranquila e aberta da escola e da própria família não resolva. Com 10, 11 anos de idade, esses pré-adolescentes usam muito a internet. É muito provável que eles já tenham tido contato com pornografia na internet". Para casos como este, a SaferNet disponibiliza o Canal de Ajuda.
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