Tira bom versus tira mau
Tirando a incrível história de planejamento de assassinatos, não há nada que não fosse previsível nesse ensaio golpista quartelado
Foto: Reprodução
Esse ensaio golpista quartelado, chame-se como for na vida brasileira, está tendo e ainda terá muitas novidades factuais. Mas, tirando a incrível história de planejamento de assassinatos, não há nada que não fosse previsível. As amigas e os amigos que nos acompanham aqui nesses quase dois anos e ou até antes disso sabem.
Esse é um jogo que militares jogaram e jogam com várias mãos. Um título para isso poderia ser: “tira bom versus tira mau”. Os tais kid pretos são as forças especiais, em aproximadamente dois mil militares, Mauro Cid é um deles. É uma patota que convive profundamente junta e todos são muito assessorados pela Inteligência. Então é um pouco incompreensível que alguns estejam sabendo o que está se passando e outros não estejam sabendo o que está se passando em uma coisa tão coesa quanto as forças especiais.
O General Mário Fernandes - que é o vilão, afinal foi preso - é pai de um capitão, que na última quinta-feira esteve presente na conclusão do curso na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais na vila militar no Rio de Janeiro. Lá, estavam também, com certezas, muitos dos que protagonizaram uma cena do dia 29 de novembro de 2014, há exatos 10 anos na Academia Militar das Agulhas Negras, onde Jair Bolsonaro diz para dezenas de militares: “Nós temos que mudar este Brasil. Tá, ok? Alguns vão morrer pelo caminho, mas estou disposto em 2018. Seja o que Deus quiser, tentar jogar para a Direita este país!”.
É uma aberração lançar uma candidatura dentro de uma academia militar, mais ainda de um capitão que tinha saído do Exército pela porta dos fundos no acordo. Por que isso é tão grave? Porque aqueles 200 cadetes que estavam ali, 15 ou 20 anos depois, serão os coronéis e os generais do Brasil. Eles viveram e participaram dessa cena.
Por isso, é importante que ao menos os cabeças sejam julgados e condenados. Se não tiver exemplo disso ou se o exemplo indicar que eles podem fazer o que quiserem à vontade, isso vai se repetir, como tantas vezes na história do Brasil. Não aprenderão como não aprenderam porque ninguém foi punido pelo golpe de 1964.
* A análise foi feita pelo jornalista no programa Três Pontos, da Rádio Metropole, transmitido ao meio-dia às quintas-feiras
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