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"O silêncio do paciente é histórico, mas queremos ouvi-los", diz cardiologista sobre nova cultura na medicina

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"O silêncio do paciente é histórico, mas queremos ouvi-los", diz cardiologista sobre nova cultura na medicina

Em entrevista, o cardiologista Eduardo Novaes e o endocrinologista Marcelo Alvarenga comentaram a transição cultura na medicina, que busca ouvir e se conectar cada vez mais ao paciente

"O silêncio do paciente é histórico, mas queremos ouvi-los", diz cardiologista sobre nova cultura na medicina

Foto: Metropress

Por: Metro1 no dia 03 de maio de 2024 às 14:19

Atualizado: no dia 03 de maio de 2024 às 16:52

Atendimento humano já é um conceito difundido na medicina, mas nem tão praticado. Algumas agendas de médicos e planos de saúde, por exemplo, trazem agendas reservando apenas 12 minutos para cada paciente. A urgência de uma medicina empática voltada para a experiência e necessidades do paciente e sua família foi tema do Jornal da Metropole no Ar desta sexta-feira (3). O cardiologista Eduardo Novaes, junto com o endocrinologista Marcelo Alvarenga, falou a importância desta mudança de perspectiva nos atendimentos. Para ele, a lição é que o médico cuida de pessoas e não de doenças.

Em 2021, Alvarenga ajudou a criar a Sociedade Brasileira de Experiência do Paciente e Cuidado Centrado na Pessoa (Sobrepx), com o objetivo de ampliar o conhecimento relacionado à experiência do paciente e aos cuidados centrados na pessoa. Foi uma fundação com grande significado, porque, diferente das outras sociedades focadas na doença, a Sobrexp já trazia desde a sua criação a importância do paciente.

"O silêncio do paciente é histórico. Nosso pai da medicina Hipócrates, ele deixou uma série de lições de ética maravilhosas, mas ele tinha uma frase que gosto de repetir: ele dizia que, caso o leigo falasse algo durante a consulta sobre o que deveria ser feito, isso era considerado uma impertinência ultrajante para o médico. Acho que isso colou e ficou por gerações. Cada cada vez mais estamos querendo que o paciente fale, os médicos, a instituições de saúde, mas a cultura esta levando um tempo para mudar", explicou Novaes sobre a origem desse certo distanciamento entre o paciente e o médico.

O cardiologista pontuou ainda que, não só médicos e instituições passaram a querer ouvir os pacientes, como os próprios pacientes também mudaram, se tornaram mais conectados. Foi neste cenário que surgiu o estudo baseado em evidências científicas sobre a percepção do paciente quando ele entra no sistema de saúde. A pesquisa, que vem sendo apresentada em revistas e congressos, mostrou que, para os brasileiros, um dos itens o que mais impactam positivamente na esperiência durante um atendimento são justamente: ser ouvido, tratado com uma comunicação clara, ser respeitado e ter sua dor levada a sério, além de um atendimento individualizado, baseado nas suas necessidades.

Para Alvarenga, a medicina passa hoje por uma transição cultural, saindo do modelo prescritivo - onde o médico apenas diz o que o paciente precisa fazer - para um modelo colaborativo, em que o paciente é o pratagonista e conta com o apoio da família, dos médicos e profissionais envolvidos. "O profissional de saúde hoje é um consultor, ele está ali para ajudar o paciente a tomar uma decisão [...] a gente desenha as coisas antes, discute as possibilidade, o que faz sentido para você e o profissional vai trazer o estudo e a experiência clínica. É uma troca, a gente começa a diminuir as hierarquias e horizontalizar as relações", disse o endocrinologista. Essa mudança , segundo ele, passa por uma transformação cultural e de modelo mental, mas também um olhar atento à formação dos profissionais da área e da estrutura dos serviços de saúde, para que ela não sobrecarregue os médicos e permita que eles se conectem em cada consulta.

Novaes chamou atenção também que, mesmo com tantas deficiências no atendimento de saúde, é importante discutir a importância do paciente na formação médica, no modelo mental dos profissionais. De acordo com ele, a Sobrepx e seus estudos surgiram justamente o objetivo de incomodar neste ponto. "O termo humanização do SUS, na medicina já existe há algum tempo, mas e a decepção do mundo real? O paciente que está naquela fila e passa por essas experiências negativas? Isso existe e a gente não vai negar [...] mas um das coisas interessantes do estudo é que as pessoas registram muto pouco quando tem uma experiencia ruim. O paciente não tem a menor ideia do poder deles", pontuou.

Confira a entrevista na íntegra: