Faça parte do canal da Metropole no WhatsApp >>

Quarta-feira, 01 de maio de 2024

Home

/

Notícias

/

Brasil

/

Tiros, mortos e feridos: boataria das redes sociais gerou caos em falso atentado

Brasil

Tiros, mortos e feridos: boataria das redes sociais gerou caos em falso atentado

No melhor estilo "quem conta um conto aumenta um ponto", o aplicativo de mensagens WhatsApp tem se tornado um verdadeiro palco para boatos e falsos alertas. Para os que colaboram com o repasse de informações pouco ou nada confiáveis, o suposto atentado terrorista no Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), no último domingo (24), por exemplo, foi um prato cheio. [Leia mais...]

Tiros, mortos e feridos: boataria das redes sociais gerou caos em falso atentado

Foto: Alberto Maraux/SSP

Por: Matheus Simoni e Gabriel Nascimento no dia 26 de julho de 2016 às 17:12

No melhor estilo "quem conta um conto aumenta um ponto", o aplicativo de mensagens WhatsApp tem se tornado um verdadeiro palco para boatos e falsos alertas. Para os que colaboram com o repasse de informações pouco ou nada confiáveis, o suposto atentado terrorista no Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), no último domingo (24), por exemplo, foi um prato cheio. 

A situação, que começou por volta das 12h40 durante a primeira fase do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), se estendeu por uma longa tarde e logo foi descrita de diversos modos — menos o verdadeiro. De acordo com a "boataria", no "atentado", tiros foram disparados, havia mortos e muitos, muitos feridos. No entanto, o caso terminou com a revelação de que o "homem-bomba" — que de fato entrou na instituição e ameaçou os estudantes — na realidade não tinha explosivos, e, sim, balas de gengibre. 

Para o doutorando em comunicação política Samuel Barros, "vamos continuar assistindo muito disso nos próximos anos". "Algumas dessas fontes não têm processos de checagem, como o jornalismo se obriga a fazer, e os valores não passam pelas verdades dessas informações, mas, sim, pela sua viralidade e qualidade de engraçado ou não", afirmou ao Metro1. "Os produtores de conteúdo [no WhatsApp] que estiveram envolvidos com o fato estavam preocupados não necessariamente com a verdade, mas com o motivo de aquele conteúdo ser possível de ser viralizado ou engraçado, sobretudo quando se descobriu que o personagem envolvido no caso não tinha nenhum artefato explosivo", acrescentou.

"Amigo meu já me confirmou: tem quatro mortes, cinco pessoas reféns, a Samu já chegou e ele ainda está lá mesmo. Quem confirmou foi um professor da próprio Cejas. Tem gente indo embora já, porque a polícia está tentando conversar com o... sei lá, o assassino, o homem-bomba"
(áudio que viralizou via WhatsApp no dia do falso atentado na Unijorge)

Clima de terror

Barros falou ainda sobre o clima de terror instaurado na instituição com a divulgação de imagens e vídeos por pessoas que também não sabiam o que estava acontecendo. Na visão dele, isso contribuiu para uma "histeria social". "Se você está em uma 'manada' e um alguém começa a gritar, no intuito de preservar a vida, é muito melhor que você saia avisando para todas as pessoas que poderiam, de algum modo, serem afetadas por esse problema, do que você perder tempo checando a veracidade e a gravidade da informação", disse. 

"Parece que ele atirou em alguém. Não vi se ele realmente atirou ou se era boato, mas minha colega ficou de frente pra ele, sem a blusa e com a dinamite amarrada nela"

A imprensa e suas falhas 

Barros comentou também os erros cometidos por alguns veículos de comunicação, que no "calor do momento", acabaram comprando e noticiando versões mentirosas sobre o caso. "O jornalismo não tinha condição nenhuma de checagem. Você toma o discurso de um cidadão como o da fé pública. Se vem alguém e diz que morreram cinco, até que você tenha condições de checar, você dá fé e acredita naquele discurso. Só que a pessoa que começa a circular esse discurso não tem os mesmos compromissos que têm os jornalistas", declarou. 

Ainda segundo ele, a falta de contato dos profissionais com situações do tipo dificultou muito o trabalho. "É uma cobertura com dificuldades muito grandes, mesmo para o jornalismo. Os jornalistas locais não estão acostumados a fazer. Não temos experiência nesse tipo de acontecimento, diferente de outros lugares. Há todo um clima de opinião e apreensão muito grande em relação a isso, por conta da prisão recente de dez simpatizantes do Estado Islâmico. Isso dificulta a interpretação dos fatos. Diante disso, o jornalismo se viu obrigado a dar notícias rápidas", frisou.

"A psicologia social nos ajuda a entender que, diante de um risco iminente para a vida de alguma pessoa, você prefere errar. É um cálculo que fazemos muitas vezes de forma inconsciente. Diante da possibilidade de alertar para o risco de vida de alguém e até salvar alguém em possível situação de risco ou alertar sobre vidas humanas perdidas, é muito melhor você errar por excesso de cuidado do que por negligência da circulação da informação", analisou.