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Para Embasa, esgoto jogado no mar foi “acidente” ; pescadores contestam

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Para Embasa, esgoto jogado no mar foi “acidente” ; pescadores contestam

No dia 23 de março, um acidente de trânsito terminou em dano ambiental para as praias de Salvador. Não conseguiu entender a relação entre uma coisa e outra? Pois é, é realmente difícil, mas a falta de preparo da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) é a ponte entre uma coisa e outra [Leia mais...]

Para Embasa, esgoto jogado no mar foi “acidente” ; pescadores contestam

Foto: Tácio Moreira/metropress

Por: Bárbara Silveira no dia 25 de abril de 2016 às 14:45

No dia 23 de março, um acidente de trânsito terminou em dano ambiental para as praias de Salvador. Não conseguiu entender a relação entre uma coisa e outra? Pois é, é realmente difícil, mas a falta de preparo da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) é a ponte entre uma coisa e outra.

O problema teve início quando um ônibus que seguia pela Av. Vasco da Gama colidiu com um poste que fornecia energia para a estação de tratamento da Embasa, na Rua da Lucaia. Apesar de ser responsável pelo tratamento de grande parte do esgoto da cidade, a estação não possuía sequer um gerador de energia para evitar a interrupção do serviço e “acidentes” como esse.

Resultado? Pelos dois dias seguintes, o esgoto passou a ser jogado no mar do Rio Vermelho, até que a linha de distribuição de energia fosse reparada. Apesar de a Embasa afirmar que o reparo foi feito em 14 horas, na sexta-feira (25), a própria empresa afirmou que os trabalhos não haviam sido concluídos. A mancha de esgoto chegou na Barra e contaminou parte da região com coliformes fecais e bactérias. A Metrópole foi ouvir quem vive do mar para saber os efeitos da irresponsabilidade da Embasa.


Pescadores: esgoto é “fato recorrente”

Presidente da Associação dos Pescadores do Rio Vermelho, Marcos Souza ainda contabiliza os prejuízos causados. “Foi uma situação gravíssima, principalmente no núcleo que temos na Mariquita, exatamente onde todo aquele dejeto foi desaguado sem nenhum tratamento. É um absurdo uma unidade daquele porte não ter geradores para que situações como essa não aconteçam”, reclama.

De acordo com Marcos, essa não foi a primeira vez que o esgoto correu pelas águas do Rio Vermelho. “Aquela adutora não tem capacidade de processar um volume grande de esgoto e, todos os anos, quando chega nesse período de uma maior concentração do índice pluviométrico, eles abrem as comportas e não processam o esgoto. Isso é um fato recorrente”, disse. A Embasa afirmou que não há relação das chuvas com a quantidade de esgoto tratado e que a poluição no mar do Rio Vermelho em geral é decorrente de outros fatores.


Alto risco de doenças 

Por causa do contato direto com a água sem tratamento, não é difícil encontrar um pescador doente, como explica o presidente da associação da categoria. “Nos anos anteriores, já tivemos diversos casos. Na Mariquita é pior, porque eles têm que entrar na água e pisar na lama suja. As embarcações saem exatamente dali. Todo ano é isso, independente desse acidente”, lembra Marcos.

Para o doutor em biologia parasitária pela Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Artur Gomes Dias, o risco de contaminação é altíssimo até dois meses após o esgoto ser derrubado. “A gente pode falar, por exemplo, da Hepatite A, que é uma das doenças mais relevantes dentro desse contexto. Ela pode causar danos hepáticos graves. Tem a leptospirose, além de doenças parasitárias como a amebíase, giardíase”, explica o professor.

Falta precaução com o meio ambiente 

Professor adjunto da Universidade Federal da Bahia e especialista em esgotamento sanitário, Luciano Queiroz acredita que falta precaução para evitar a contaminação das águas. “A companhia deveria ter alguns programas de controle de falhas. O que nos chama a atenção é o acidente ter acontecido e a empresa não ter uma margem de manobra para mitigar os impactos”, opina.

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) já anunciou que também vai analisar se houve crime ambiental. O caso é acompanhado ainda pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pela Metrópole, claro, que não vai deixar esta história morrer.